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19 janeiro, 2014

O que fazer com um marido alcóolatra?




"Bom dia Adriana,
Gostaria muito de um conselho, se é que isso é possível.
Em uma das minhas inúmeras buscas na internet por uma luz, um consolo para essa minha vida miserável de esposa de alcoólatra, estava lendo um texto seu "O que fazer com um pai alcoólatra" e resolvi lhe escrever.
Acho que eu e meus filhos é que estamos no fundo do poço. Meu casamento de 19 anos, um casal de filhos e a cada dia que passa fico mais perdida e desiludida. Já perdi a esperança de um dia viver em paz com meus 
filhos. Tenho aguentado tudo isso por eles. Meu filho mais novo (12 anos) gosta muito do pai e acho que não suportaria se eu o abandonasse. Fico nesse dilema: será que isso é realmente o melhor para todos? 
Meu filho há 2 anos ficou diabético tipo 1 e acho até que a causa é emocional.
Meu marido não quer saber de ajuda, acho que não quer se dar conta de tudo o que está nos causando e nossa vida é um tremendo inferno. Meus filhos e eu vivemos em estado de pavor, pois ele fica muito alterado, briga com todos (principalmente comigo), me agride muito verbalmente. Tudo é motivo de briga. Joga fora comida com as vasilhas, bate portas, joga as coisas no chão, destrói, quebra. quando chega em casa à noite e já estamos deitados ele me acorda e acorda meu filho, pelo simples prazer de brigar e reclamar de coisas fúteis: como uma camisa que não encontrou, algo para comer na cozinha, etc. E cada dia que passa amanheço nessa tormenta: como vai o nosso dia? O que vai acontecer hoje? Meus filhos saem da escola e a primeira pergunta que fazem é: onde está meu pai? Está no botequim? Ele já bebeu?
Eles também vivem o mesmo tormento que eu. Minha vida é trabalhar e cuidar dos meus filhos. O menino é muito dependente pois com a diabetes depende de mim para o controle da glicose, 03 injeções diárias, controle de alimentação. A menina tem 18 anos e não sai, não passeia, não recebe amigas em casa e é muito revoltada com o pai.
Não tenho o prazer de chegar o final de semana, de ter um feriado, pois o sofrimento é maior. Não tenho mais vida. Vivo e peço a Deus que me ajude pois meu filhos precisam muito de mim. É tudo o que eles têm e podem contar. Se não fosse por eles, já tinha desistido.
Se puder, me dê uma palavra.
Desde já agradeço sua atenção.
Que Deus te abençoe,
A."
Recebi esse email e como é um assunto de ordem cotidiana para muitas mulheres, pedi para a autora do mesmo se poderia responder-lhe em público. Espero que sirva de ajuda paratantas esposas e mães que se encontram na mesma situação. Não sei se vocês vão gostar do que vou escrever, mas tendo me encontrado eu mesma nessa situação, falo não só como profissional mas por vivência pessoal.
Em primeiro lugar A. você precisa reconhecer o primeiro passo dos Dozes Passos do AA:admitir que você (e seus filhos) não tem poder sobre o alcoolismo de seu marido. Já deve ter tentado mudar alguma coisa, reagido,protestado, gritado, conversado. Já deve ter feito de tudo: deu resultado? Não, né? De fato, o que você passa está dentro da normalidade da vida com muitos alcoólicos. Você é impotente diante da doença de seumarid, não tem como mudá-lo e muito menos fazê-lo parar de beber. Como você pode observar ele se importasomente consigo mesmo. O amor por você e pelos filhos vem depois do álcool. Não é isso?
Então, eu te pergunto: por que está com ele?
Pelos filhos?
Tem certeza?
Qual mãe vai deixar seu filho nas mãos de um bruto, egoísta, irresponsável e cruel? A criança gosta dele? A criança está doente - como o pai. Se minha filha gostasse de coca-cola ao ponto de não beber nem água mas só coca, dia e noite, eu como mãe tenho a obrigação de impor-lhe outra realidade, antes que seja tarde demais. Se tenho um namorado que eu adoro mas que é aidético, eu vou usar camisinha quando tiver relações sexuais com ele. Não há amor que possa se chamar tal que nos prejudique. Se isso acontecer, esse amor está permeado de doença. Quem é sadio há de se proteger, porque se não adoece. Na certa.
O alcoolismo, segundo os AA, é uma doença física, emocional e social. É física porque o alcóoltra desenvolveu uma dependência física, beber já não é mais uma escolha.  É emocional porque o alcoolismo está caracterizado por uma série de comportamentos padrãoque, inclusive, são extremamente contagiosos, logo virando uma doença social. A família do alcoólico reproduz os comportamentos padronizados do alcoólico, além de ser cúmplice de seu alcoolismo, junto à amigos e a todos que bebem com ele e toleram
A doença emocional do alcoólico se carateriza por : manipulação (são habilidosíssimos manipuladores), autopiedade, sentimentalismo, depressão, irritabilidade, sentimento de culpa, muita vergonha - a qual se mascara com mais álcool alimentando assim o círculo vicioso. A doença emocional da família do alcoólico se caracteriza por: vergonha do que está passando, culpa (é culpa minha se ele bebê e está bravo? Crianças fazem muito isso), baixa-autoestima, sentimentalismo, depressão, irritabilidade, autopiedade....
Ter dó do acoólatra é típico, e os filhos são os que mais pegam esse 'vício'. O pai joga com esse sentimento, por baixo dos panos. Ele quer manter sua família, afinal, em que descarregaria sua raiva? Quem arrumaria sua cama, prepararia sua comida, lhe daria um lar?Ele não quer ficar sozinho. Ele faz o que bem entende, chega bêbado, inferniza a vida de filhos e mulher, mas eles estão sempre lá. Não é fantástico? Qual delinquente destrói um supermercado, um edifício, uma escola e permanece impune? Só se for deputado...infelizmente.
Alcoólatras em pleno estado alcoólico agressivo parecem indemoniados, o rosto desfigura, ficam feios, mesmo o mais bonito dos homens se transforma num ser horrível, feio e ainda por cima cruel. Extremamente egoísta, não está nem aí com os outros à sua volta. Não me surpreende que os evangélicos acreditem que esteja possuído pelo demônio. Mas não vamosfazer religião, fiquemos na psicologia. O fato é que diante de um ser desses é preciso dar no pé. Esse é o único comportamento sadio. O resto é doença de quem fica e masoquismo.
Milagres não vão acontecer, A. O espírito santo não vai baixar e libertar vocês todos.Ninguém vai tomar iniciativas para melhorar essa situação se você não o fizer.
O que acontece com muitas mulheres é que elas são pegas de surpresas. Um bruto chegando em casa bêbado deixa uma família desorientada, e dessas contínuas desorientações o alcoolismo se alimenta e cresce. Vivendo em constante estado de medo einsegurança, com sua auto-estima sendo massacrada dia após dia, a mulher de um alcoólatra fica sempre mais confusa. Enquanto a dor aumenta, a escuridão em volta dela se adensa. Logo, a casa é governada pelo alcoolismo do marido, suas crises, suas loucuras.

Aqui nos EUA, de onde escrevo, seu marido estaria preso há anos. Isso que você descreve é violência doméstica e abuso de menores. Vocês podem amá-lo loucamente (é possível amar a quem te machuca?), mas ele não vos ama. ficar com ele é desperdiçar suas vidas. Seus filhos já sofreram muitíssimo. Demorarão décadas para se recuperar desses traumas, sem contar que nunca poderão recuperar a serenidade de poder crescer em paz que toda criança merece durante os anos cruciais de seu desenvolvimento. E você pensou no modelo de mulher e de esposa que está passando a sua filha? Você quer que ela passe o mesmo que você? Você infelizmente foi cúmplice desse homem com quem está casada e endossou a violência dele e o abuso sobre seus filhos. Como alguém disse, o pior não são os que fazem o mal mas os que vendo não fazem nada.

O alcoolismo age como uma teia de aranha que vai amarrando as pessoas, sufocando-as, tirando-lhes sua estima e liberdade de escolha, dia após dia. Acorde desse transe. Desperte. Melhor uma casinha modesta mas serena do que uma mansão à mercê da violência e irresponsabilidade sem amor de outra pessoa.

Todos nós como sociedade precisamos acordar para a realidade. Todos sonham com essa bendita família, com papai, mamãe e filhinhos, todos sentados em volta da mesa com um sorriso feliz nos lábios. E se essa família não existir? Abremos os olhos. Qualquer lugar onde há pessoas vivendo juntas em harmonia é uma família - que se chamem pai, mãe, vizinho, amigo, avó, primo... o que importa? Não só em harmonia, como também no respeito e na justiça. É disso que crianças precisam - e todos nós.

Sua carta demonstra que você não tem poder sobre seu marido. Decida quais são suas prioridades. Responda honestamente a você mesma: por que estou com ele? Por que submeto seus filhos a esse inferno? Por que submete a mim mesma a esse inferno? Toda a literatura sobre alcoolismo diz a mesma coisa: o alcoólatra só deixa seu vício quando PERDER TUDO. Ele deve se encontrar "no fundo do poço". Deixar o álcool é uma troca. Em troca de amor, amizade, trabalho, casa ele deixa o álcool. Mas se tiver tudo isso, para que? Esse seu marido vive na impunidade descarada. Em nome de qual privilégio? Por que é macho? Por que tráz o dinheiro para casa? Vale a pena viver no medo?

Seu caminho é difícil, A. Você precisa se separar e reconstruir sua vida. Despoluir-se de todos esses anos de sofrimento, aprender a levantar a cabeça, a gostar de si novamente, a estabelecer uma nova relação com seus filhos e ajudá-los nessa transição e libertação, a respirar livre numa casa sem medo, e aprender a se respeitar, se amar, se desenvolver como mulher e pessoa. Você merece. Somente então poderá ser aquele esteio e apoio que seus filhos precisam, um exemplo de mulher a se admirar.

Para essa tarefa árdua, você precisa de ajuda: terapia individual (com um/a terapeuta que entende de alcoolismo porém, se não não serve) e Al-Anon. Escrevi isso em muitas respostas a comentários: é terapia individual e encontros regulares no Al-Anon. Você precisa se tratar, pois está toda ferida psicologicamente, precisa entender como funciona o alcoolismo na família e compartilhar com outras pessoas que vivem e viveram a mesma coisa. A união faz a força.

Se seu marido não encara a verdade, dê você o primeiro passo. Ficar nessa situação só vai destruir sempre mais vocês todos. É responsabilidade do mais sadio e são de mente tomar as rédeas do barco. Se você e seus filhos estão "no fundo do poço" quer dizer que estão prontos para a mudança. Coragem! Liberte-se, nada pode ser pior de tudo o que já passou.

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