Você pode dizer a idade de um homem, ou pelo menos a idade mental
dele, a partir do tamanho da bunda da sua companheira. Mas quando eu
digo tamanho entendam que me refiro ao conjunto “tamanho + beleza”, até
porque se você namora a Preta Gil a minha primeira frase cai por terra.
Há muitas maneiras de se medir o grau de maturidade de um homem. Se
ele joga playstation, por exemplo, ele é um imbecil imaturo. Afinal,
qual adulto maduro e sóbrio hoje em dia não tem – ou pelo menos deseja
ter – um Nintendo Wii? O número de proparoxítonas em uma frase, as
gírias que ele usa, a migração das cuecas estilo boxer e sunguinha para
as confortáveis samba-canção, até alcançar a perfeição: a liberdade
absoluta, enfim, são muitas as maneiras de se medir a maturidade de um
homem. Mas nenhuma se compara à bunda de sua companheira.
Quando se é jovem, leia-se aqui adolescente, o tamanho da bunda é o
que importa. Você só quer saber de bolinar aquelas colinas frondosas e
arredondadas da gatinha ao seu lado, e isso é tudo o que importa pra
você. Não importa caráter, beleza do rosto, voz, nada. Só a bunda. Você
só olha pras bundas, só pensa nas bundas, e alguns só falam com as
bundas. E além de bolinar, você precisa que seus amigos saibam que você
está bolinando aquele monumento à lascívia da, digamos, Risoleta. Você
quer que todos vejam sua (dela) bunda. É só isso o que importa.
Já quando abandonamos a adolescência e adentramos (parem de pensar em
bundas) na vida adulta, lá pelos vinte e pouquinhos, já temos plena
consciência de que a bolinação é questão de tempo e não nos apressamos
mais atrás das bundas enormes, carnudas, gostosas, polpudas, deliciosas,
enfim, com o diâmetro das bundas. Nos preocupamos com o futuro. Com as
bundas mais ajeitadinhas, que não tenham uma tendência a aceitar a
gravidade de maneira passiva e complacente. Pensamos além. Pensamos que
aqueles montes verdejantes e empinados de hoje podem virar os pântanos
empertigados e irregulares de amanhã. E nos preocupamos então com o
formato e a, digamos, consistência das bundas.
Chegando aos trinta já vimos, tateamos, mordemos, beliscamos,
bolinamos e apalpamos tantas bundas que isso já não é mais a prioridade
em nossas vidas. Nem mostrar pros amigos, porque agora, ao contrário do
que pensávamos aos dezoito, nós já temos consciência de que nossos
amigos querem e vão tentar apalpar e mordiscar as nossas (delas) bundas.
Então agora fazemos questão de não fazer tanta propaganda. A bunda para
o sujeito que chega aos quase trinta é como desembaçador traseiro ou
quinze porta objetos: você não deixaria de comprar um carro que não
tivesse isso, mas seria muito melhor que ele tivesse.
Nessa fase da vida queremos sossegar, e os rostos e o caráter
rivalizam com as bundas em importância. Até porque, aos quase trinta já
temos criatividade e experiência o suficiente para saber que outros,
digamos, atributos menos aparentes das mulheres são tão ou mais
importantes que a bunda. Mas, como eu disse aí em cima, se encontramos
um carro confortável, confiável, fiel, com quinze porta objetos,
desembaçador traseiro e nove encostos de cabeça nos bancos traseiros,
melhor ainda.
Depois do trigésimo ano de vida todo homem faz, inexoravelmente,
dezoito anos de novo. E volta a querer bundas grandes, bundas enormes,
bundas carnudas, etc. Exatamente como na adolescência. E arruma amante
gostosa, paga plástica pra mulher e volta a comprar revistinha de
sacanagem. E dos trinta aos cinquenta o homem se mantem nos dezoito.
E aos cinquenta ele volta à realidade, e faz cinquenta e um. Nessa
fase da vida os joelhos já não têm a firmeza de antes, as costas já não
têm a rigidez de antes e a cabeça te deixa na mão sempre que você
precisa. O que você menos quer agora é usar as palavras “firmeza”,
“rigidez”, “cabeça” e “deixar na mão” na mesma frase.
Então a bunda passa a ser como um rolex: ele vê as horas como seu
relógio de dez pratas do camelô veria, mas todos sabem que você tem um
rolex. Você sabe que já não vai mais usufruir daquela bunda como dantes o
faria, mas quer que todos saibam que se você quisesse – ou pudesse –
aquela bunda estaria completa e ilimitadamente a mercê de sua lascívia e
de seu desejo ardente e pulsante.
Depois dos sessenta o ideal seria uma bunda que lavasse, cozinhasse,
passasse, trouxesse seus chinelos, fizesse um café nem fraco nem forte,
não passasse na frente da TV na hora do futebol e não pegasse o caderno B
do jornal enquanto você lê o resto, afinal de contas, o jornal é uma
unidade, e quem está lendo agora é você. Aqui a bunda se torna
indispensável, e chega a ser perigosa. Aos que têm um coração fraco ou
nervos delicados, sugiro nessa fase da vida esquecer que a bunda existe e
criar novas formas de diversão e luxúria, como a bocha, a alimentação
aos pombos em praças e o deixamento de toalha em cima da cama sem
barreiras. Esse último porém só deve ser executado na ausência da
patroa, principalmente se ela, na juventude, era uma orgulhosa dona de
uma bela bunda. Mulheres assim se tornam donas de casa matronas e
violentas. Como dizem por aí: velhinho que deixa a toalha em cima da
cama sabe a bunda que tem.