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04 janeiro, 2011

Vamos falar de sexo, filho?


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Thamires da Silva tinha 16 anos e cursava o 2º ano do Ensino Médio numa escola do Rio de Janeiro quando seu namoro terminou. O rapaz, colega de escola, fazia juras de amor logo no início do relacionamento. Mas, em menos de cinco meses, decidiu que não queria mais namorar. “Ele disse que não gostava mais de mim e que era melhor terminar do que me trair. Passei nove meses chorando”, conta Thamires. Nesse tempo, ela perdeu o apetite, se trancou no quarto e acabou tirando péssimas notas no colégio.
A mãe de Thamires estranhou a reação da filha. “Acho que ela desconfiou que eu não fosse mais virgem, mas não me perguntou nada.” Sua irmã mais velha, no entanto, quis conversar. “Ela quis saber se eu havia transado com ele. Confessei que sim. Mas minha mãe mesmo até hoje não sabe.”
Sexo é status entre os jovens
E se isso acontecesse com um filho seu? A pesquisa da Unesco “Juventude, juventudes: o que une e o que separa”, realizada em 2004 sob a coordenação da socióloga Miriam Abramovay, da Ritla (Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana), revela que 80% dos jovens matriculados na rede de ensino já tiveram relações sexuais. Destes, 89% tiveram a primeira experiência sexual até a 4ª série do Ensino Fundamental. Outra pesquisa, feita pela psicanalista Kátia Geluda, do Rio de Janeiro, indicou que 63% dos jovens entrevistados preferiam conversar so¬bre sexo com os colegas, e 62% escolhiam o(a) namorado(a) para falar sobre o assunto. Apenas 25% costumavam conversar com a mãe. Já o pai foi apontado por 54% dos jovens como uma pessoa com quem nunca se conversa sobre sexo. “Ainda existe grande dificuldade entre pais e filhos de conversar sobre sexualidade. E este assunto é vasto, vai desde informações sobre o funcionamento do corpo e medidas preventivas contra doenças sexualmente transmissíveis até o prazer e o desejo que os adolescentes experimentam com suas descobertas”, afirma a Dra. Kátia. “E pesquisas comprovam que conversar sobre sexo com os filhos não os encoraja a iniciar a vida sexual mais cedo. Diferentemente disso, a troca de ideias favorece o esclarecimento e o diálogo”, acrescenta ela. Mas muitos pais acham que, se não pensarem sobre o assunto, o ato não vai acontecer. Mas acontece.
De acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), de 2007, 11,8% das jovens entre 15 e 19 anos já tiveram filhos. E a pesquisa “Gravidez na Adolescência – Estudo Multicêntrico sobre Jovens, Sexualidade e Reprodução no Brasil (Gravad)”, desenvolvida pelas universidades UERJ, UFBA e UFRGS, em 2002, revelou que 29% das mulheres e 21% dos homens disseram haver tido um episódio de gravidez antes dos 20 anos.
Quando os jovens decidem agir secretamente, eles perdem a chance de ter um canal de comunicação aberto com adultos que podem ajudá-los a tomar decisões ponderadas. Esse canal é especialmente importante quando o assunto é sexo, pois as consequências podem ser preocupantes, e o tema é quase onipresente na cultura popular. Se observarmos as bancas de jornais, veremos que a maior parte das publicações voltadas para adolescentes é focada em aparência, moda e namoro. “Existe uma pressão sobre os jovens em relação à sexualidade. Os adolescentes estão iniciando a vida sexual dois anos mais cedo do que há dez anos”, diz Adson França, diretor do Departamento de Ações Estratégicas do Ministério da Saúde, que desenvolve ações no sentido de reduzir a gravidez precoce no Brasil.
Para Rafael Heringer Carvalho, de 18 anos, que escreveu um artigo sobre sexo na adolescência em seu blog na Internet, muitos adolescentes são convencidos de que o sexo é mais glamoroso do que realmente é e muitos têm relações “só para se sentirem normais”. “Crescemos num mundo cheio de cenas de sexo em novelas, filmes, comerciais, e até em desenhos animados”, diz. “Além disso, os amigos que não são mais virgens ‘botam pi¬lha’, dizendo que sexo é a melhor coisa do mundo e mostrando os prazeres, mas se esquecendo das responsabilidades.”
Virgindade é coisa do passado?
Paulla Perin, 16 anos, que faz parte de uma comunidade no Orkut em defesa da virgindade, diz que muitos jovens são, de fato, pressionados pela sociedade, por amigos e pela mídia a iniciar a vida sexual. Divididos entre forças externas que os levam a fazer sexo e forças internas que os levam a querer esperar, muitos não sabem o que fazer. “Tem gente que se deixa levar pelo momento e acaba se arrependendo depois. Pensam que haviam encontrado a pessoa certa mas logo descobrem que não foi bem assim...”
Os adultos podem ter papel importante na hora de lidar com essas dúvidas. A pesquisa realizada pela Dra. Kátia descobriu que os jovens, ao indicar quem seria a fonte mais confiável em relação aos assuntos sexuais, escolhem a mãe em primeiro lugar, antes dos amigos e da mídia. “A maioria considera a mãe como fonte esclarecedora, mas prefere conversar sobre o assunto com colegas do mesmo sexo ou com o(a) namorado(a)”, explica a Dra. Kátia. Quando a mesma pergunta é feita aos pais, eles subestimam sua importância. Mesmo os que sabem ter esse po¬der às vezes ficam sem saber o que dizer quando seus bebês viram adolescentes emburrados. Muitos podem preparar mentalmente um discurso rápido para quando os filhos entrarem na puberdade, mas a base do comportamento sexual de um jovem é construída ao longo dos anos, e não em apenas uma conversa certa noite depois do jantar. “Hoje, vivemos num mundo erotizado. Os pais, então, precisam conversar e responder às perguntas dos filhos desde cedo. É uma conversa que deve começar ainda na infância e durar muito tempo”, diz a Dra. Kátia.
Veja o exemplo de Letícia Brandão, que acabou de concluir o 2º ano do Ensino Médio no Colégio Santo Agostinho, no Rio de Janeiro. Desde que completou 12 anos, sua mãe discute sexo abertamente com ela. “Logo que ela começou a conversar comigo, eu ficava sem graça. Não gostava muito de falar sobre o assunto, achava que era uma realidade muito distante ainda. Mas minha mãe sempre insistia.”
A mãe de Letícia, a advogada Denise Rocha Brandão, diz que não queria que a filha tivesse uma relação negativa ou de culpa com o sexo, mas que também não tratasse o assunto com irresponsabilidade. “Quando comecei a conversar com a Letícia, queria que ela soubesse dos perigos de se fazer sexo cedo demais, das consequências de um filho não planejado e das doenças que o sexo podia trazer”, lembra Denise. “Mas não queria ficar só na parte negativa; falei também sobre os prazeres do sexo, e que ela precisava ficar atenta para não ter uma relação sexual só para agradar a alguém ou ficar na moda. Era preciso ter envolvimento”, conta.
Até agora, parece que a conversa está funcionando. “Letícia hoje tem 17 anos, ainda é virgem e muito responsável. Ela diz que só pretende iniciar a vida sexual quando achar que está na hora certa e com a pessoa certa”, acrescenta Denise. “Tenho uma colega que teve filho aos 15 anos, e a vida dela mudou completamente. Ela perdeu a liberdade e não consegue fazer mais nada. É o tipo de experiência que eu não quero para mim”, comenta Letícia.
Os motivos que levam um adolescente a fazer sexo enquanto outro prefere esperar são tão diversos quanto suas personalidades, mas muitos dos que não são sexualmente ativos foram criados em lares onde as conversas sobre sexo são claras e tranquilas. Cristini Rodrigues Mendes Moraes, odontopediatra de Juiz de Fora (MG), decidiu muito cedo que iria falar sobre sexo abertamente em casa. Quando seu filho Bernardo tinha 10 anos, ela começou a tocar no assunto. “Quando ele passou a se interessar por festinhas, eu sempre falava sobre beijos e tudo o mais que ele precisava saber para decidir o que fazer. Tenho outros dois filhos, uma menina de 17 e o caçula, de 13. Nós três falamos sobre sexo em qualquer situação, seja vendo um filme ou uma novela, sempre com naturalidade”, conta ela. Cristini diz que assim foi fácil para os filhos perceberem que podem contar com ela. “Eles sabem que podem conversar comigo sobre qualquer coisa.”
Alguns adultos podem criar cabelos brancos quando pensam no assunto, mas os adolescentes de hoje, em geral, estão fazendo melhores escolhas do que os de dez anos atrás. Segundo Adson França, as campanhas do governo no rádio e na TV, o aumento da oferta gratuita de contraceptivos (o SUS adquiriu 1 bilhão e 100 milhões de preservativos destinados à população adolescente) e o desenvolvimento de ações em educação sexual nas escolas têm contribuído para a conscientização dos jovens.
Para completar, os adolescentes de hoje compensam pela primeira geração nascida e criada sob o fantasma da Aids. E a gravidez precoce também se tornou menos socialmente aceitável em muitos círculos. Além disso, especialistas afirmam que uma maior quantidade de informação leva, sim, a melhores escolhas. E quem não está fazendo sexo anda admitindo isso com mais facilidade. Karina Faria, de 16 anos, de São João de Meriti (RJ), não tem qualquer pudor em dizer aos colegas que é virgem e que pretende continuar assim até o casamento. Ela diz que não vê reações negativas por parte de seus colegas quando defende a virgindade. “Como hoje é difícil encontrar garotas como eu, muita gente me apoia, diz que estou certa e que tenho uma cabeça muito boa para minha idade.”
Karina se preocupa com os amigos e amigas que apostam todas as fichas em romances baseados em sexo. “Muitas meninas da minha idade começam a fazer sexo para seguir a modinha, conheço até algumas que já tiveram filho”, conta ela. Mas a jovem minimiza o poder da mídia de influenciar a decisão de quem quer iniciar a vida sexual. “É claro que a TV mostra mui¬ta coisa, fala muito sobre sexo, mas acho que cada um tem a sua cabeça e só vai se deixar influenciar se já estiver com vontade. Aí, sim, a TV é um grande incentivo.”
Precisamos discutir a relação...
 Para motivar o comportamento responsável em relação ao sexo, é importante que os pais se envolvam de verdade. É normal que as crianças rejeitem a família quando começam a crescer, mas o jovem Rafael Heringer, por exemplo, acredita que os pais deveriam conversar com os filhos de uma forma bem descontraída, não escolhendo hora nem lugar, mas aproveitando um momento em que o assunto venha à tona. “Um discurso do tipo ‘Vamos conversar, filho’ acaba deixando o jovem um pouco nervoso e a conversa pode se tornar entediante”, explica ele. “No fundo, parece que os pais só querem saber se os filhos já tiveram ou estão tendo relações. Se esse assunto surgisse num bate-papo descontraído, certamente o jovem teria maior liberdade para falar a verdade”, aconselha Rafael.
No fim das contas, não importa o quan¬to os adolescentes revirem os olhos ou pareçam constrangidos: eles ficam aliviados em saber que existe alguém que saberá encontrá-los mesmo quando se sentem perdidos


4 regras simples para os pais falarem de sexo com seus filhos:
Siga estas dicas quando for discutir sexo com seus filhos:
* Não entre em pânico. Se o assunto vier à tona, pense no que gostaria de ter discutido com seus pais quando tinha a idade de seus filhos
* Não repreenda. É melhor perguntar e sondar. Não invada a privacidade de seu filho. Acompanhe-o em suas questões.
* Não pense que uma conversa só resolve. Mantenha o canal de comunicação aberto.
* Explique suas opiniões e valores morais. Os jovens precisam saber no que seus pais acreditam.
* Preste atenção no que seu filho vê e lê. Sua influência importa, mas é bom saber quais outras existem na vida dele. Acompanhe a vida de seu filho.