Tradutor

http://1.bp.blogspot.com/-cTQ6nQS_FEg/T-9PuIglwxI/AAAAAAAABG4/NILfi6iRsc8/s1600/banner-amor.jpg

08 setembro, 2011

Baixa auto-estima


EDIÇÃO 67 > MULHER
O que dizem aquelas que foram a outra
A triste vida da amante
Ana Cleide Pacheco

Baixa auto-estima pode ser uma das razões que levam uma mulher a se submeter ao papel da “outra”, suportando as limitações de um romance proibido. Quem vive essa situação, secretamente, espera um dia vir a ser tornar a única na vida do amado. A experiência mostra que dificilmente um homem que mantém um caso fora do casamento irá se separar para ficar com a amante. Ele pode até deixar a esposa devido ao adultério e à fragilidade da relação matrimonial, mas nem sempre fica com aquela que desencadeou o fim do casamento. Lamentavelmente, por fraqueza ou ingenuidade, a mulher que se apaixona por um homem casado não percebe que está entrando por um caminho perigoso.
Foi o que aconteceu com Selma (nome fictício). Aos 36 anos, ela afirma ser a outra há 18 e, apesar de estar arrependida, não consegue sair da situação. “Conheci o Carlos (nome fictício) quando trabalhava como caixa em um supermercado. Ele sempre ia fazer compras com a esposa. Eu os achava lindos, pois ele era bastante carinhoso com ela. Após alguns meses, ele começou a me paquerar, e eu acabei cedendo. Hoje me arrependo, mas não consigo deixá-lo. O pior é que sei que sempre serei a outra, pois o Carlos nunca vai deixar a casa e a família para ficar comigo”, desabafa.


A coordenadora do curso de psicologia da Faculdade Paulista Unip, Maria da Piedade Romeiro de Araújo, explicou que a motivação da traição vai desde oportunidade até características da personalidade da pessoa. A psicóloga disse ainda que, apesar de não haver diferença numérica entre mulheres que têm amantes e homens que também têm casos extraconjugais, as mulheres acabam se envolvendo afetivamente. “O homem é capaz de ter uma noite de sexo sem envolvimento emocional. Até existem mulheres que fazem isso, mas em número menor”, pondera. Maria Piedade alerta ainda que muitas pessoas procuram vários parceiros para tentar resolver a insatisfação com elas mesmas. “Buscam ou projetam no outro a satisfação que querem. Mas não vão encontrar porque precisam entender e trabalhar essa busca”.
Independentemente das motivações que levam mulheres a se envolver com um homem comprometido às escondidas, a Bíblia é clara quanto ao assunto e traz diversas passagens que, além de condenar o procedimento, orienta sobre como evitar. Para o pastor da Igreja do Nazareno Central de Campinas (SP), Ernesto Ferreira Júnior, as relações extraconjugais são frutos do pecado e também da pressão midiática que coloca no adultério a roupagem de algo que traz prazer e alegria. “O relacionamento fora do casamento não passa de uma fantasia e trará conseqüências dolorosas para todos os envolvidos. Todos os textos bíblicos relacionados com a sexualidade pressupõem a sua consumação física no contexto do casamento, numa ambiência onde não há vergonha e insegurança comuns em envolvimentos sexuais fortuitos”, explica ele.


POR DENTRO DA MENTE DE UM HOMEM QUE TEVE UMA AMANTE
“O meu caso começou por acaso. Um dia cheguei ao meu trabalho e vi o e-mail de uma pessoa me elogiando em relação a uma resposta que dei, também via e-mail, para o namorado dela. Não houve rodeios. Ela disse que queria sair comigo. Eu respondi que estava muito bem com a minha esposa e tranqüilo. Isso só fez aumentar o empenho dessa pessoa em me conquistar. E olha que a gente nem se conhecia pessoalmente.
“Ela foi tão insistente que nos correspondemos durante três meses pela internet. Depois, nos falamos durante o mesmo período por telefone. Percebi, então, que eu já não iria mais resistir. Depois de seis meses nos encontramos pessoalmente e ficamos juntos, embora não tenhamos transado nas primeiras vezes. Na época, eu estava com 36 anos e ela com 21.
“Com certeza, a diferença de 15 anos foi fundamental para ela me conquistar. Fui atraído pela juventude e beleza, e também por sentir que ela me devolvia a vida que eu tinha quando mais jovem: saímos todas as noites, não tinha problemas, só alegria. Depois de um mês me relacionando com essa pessoa, saí de casa e deixei minha mulher e três filhas. Fui morar com essa garota e, no começo, foi uma festa. Todas as noites fazíamos um programa e parecia que eu era um jovenzinho novamente. Mas, aos poucos, fui caindo na real e percebi que eu era mais feliz com a minha esposa e minhas filhas. Pedi perdão à minha mulher e ela me aceitou de volta. Hoje, sei que não vale a pena ter um caso.”
José (nome fictício),
publicitário.
O pastor acredita que as juras e os votos de amor eterno externados no dia do casamento não são garantia de fidelidade. “O compromisso de lealdade e fidelidade devem ser renovados constantemente diante de Deus, a despeito dos conflitos diários. A traição, muitas vezes, acontece em relações que não são completas, apenas físicas. O ato sexual é muito importante no casamento, mas não deve ser o único. Quando isso acontece, o homem ou a mulher pensam o seguinte: esse corpo eu já explorei, agora quero explorar aquele. Não há envolvimento”, ressalta Ferreira Júnior.
A pastora Andrea Medeiros, do Ministério Apostólico Nova Aliança, complementa o pensamento ao afirmar que o adultério deixa marcas profundas que só um arrependimento genuíno e sincero podem curar. “Só se recupera de uma traição a pessoa que se arrepende profundamente e que tem certeza do amor de Deus e do seu perdão. Eu já acompanhei um casal que passou por essa situação e pude perceber as marcas avassaladoras. Só o amor de Deus traz a cura”.

PALAVRAS DE QUEM FOI A OUTRA Aparecida acredita que as traições acontecem dentro de casa. Foi assim com ela e com várias amigas. Ela afirma que foi amante de Roberto, amigo de seu marido, por mais de cinco anos. Ele freqüentava sua casa com a esposa (de quem se tornou amiga íntima) e viajavam todos juntos nas férias. Apesar de arrependida, Aparecida afirma que o maior culpado foi seu marido, pois contava as fragilidades de seu casamento para o outro. “No momento em que se expõe sua intimidade para alguém, fica-se vulnerável para desenvolver outro tipo de sentimento”, diz.
Cristiane casou-se muito jovem com um homem bem mais velho que ela. Como opostos que se atraem, ele era do tipo sossegado, e ela, o brilho das festas. Seis anos e dois filhos depois, a vida social foi-se restringindo aos passeios próprios para crianças. Saíam, às vezes, com os amigos, e nunca estavam sozinhos. Cristiane passou a se lembrar dos namorados que tivera antes do casamento. Em suas fantasias, via renovadas oportunidades para voltar aos bons tempos. Quando conheceu Cláudio, pôde concretizar situações que já vivera em pensamento e sentiu-se novamente realizada. Quanto a Cláudio, não se separou da esposa. Dois anos depois, Cristiane conheceu o Evangelho e aceitou a Jesus. Hoje, ela se arrepende de ter traído o marido.
Rafaela tem um relacionamento duradouro há sete anos. Acredita que foi levada à infidelidade por insistência do homem que a seduziu. Conheceu João por intermédio de uma amiga, e esta foi logo avisando a ele que Rafaela não estava disponível. Mas João não se contentou com a advertência e foi em frente: descobriu o telefone dela, procurou-a e chamou-a para sair. Rafaela não resistiu e começou um caso que correspondeu às expectativas de ambos durante dois meses. Com o tempo, Rafaela percebeu mudanças na personalidade do novo companheiro: João fazia exigências, pressionava para que ela se dedicasse só a ele e deixasse o marido. Foi o suficiente para acender um sinal de alerta. Rafaela não gostou nada daquele comportamento e deu um basta na situação. Ao terminar o relacionamento com o amante, ela passou a dar mais valor ao marido, às suas qualidades pessoais, à vida sexual e ao companheirismo entre os dois.

(As pessoas que deram estes depoimentos
solicitaram que seus nomes fossem trocados)




Como terapeuta familiar e secretária nacional do CPPC (Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos), Luciene Miranda fala com convicção que a amante sofre. Se ela assume que nunca terá o outro à sua disposição, pode não sofrer tanto. Só que a maioria espera que ele termine seu relacionamento com a companheira para ficar só com ela. “O fato de não viver uma verdadeira parceria na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, já é um fator que traz sofrimento. Sem contar que a outra fica sempre sozinha nas datas especiais como Dia das Mães, Natal, Reveillon, férias. Nessas ocasiões, ele está sempre com a família e não pode compartilhar a vida com a amante”, afirma a terapeuta.
A psicóloga continua sua análise ao explicar que por ser uma relação que não se concretiza em toda a sua plenitude, ser a outra funciona como uma espécie de defesa. “Acredito que quem procura um homem comprometido com outra é porque também está ‘comprometido com alguém’, possivelmente ‘casado’ com os pais, ou com a profissão, ou até mesmo com um amor platônico ou com uma fantasia de algo que poderia ter sido”.

SENTIMENTO DE CULPA

O sentimento de culpa também é outra dor que aflige a amante. A culpa acontece após a reavaliação de um comportamento do passado tido como reprovável por si mesmo. Sua base, do ponto de vista psicanalítico, é a frustração causada pela distância entre o que não foi e a imagem criada pelo superego daquilo que deveria ter sido. Para Luciene, a culpa vem porque o fato de ser amante representa uma quebra da norma estabelecida pela sociedade e pela igreja.
Maria (nome fictício) até hoje não consegue lidar com o fato de ter sido a outra por dez anos. “Até hoje me sinto mal quando me lembro disso. Vivi essa situação por muito tempo. Acredito que todas as mulheres que se prestam a esse papel estão cegas. Eu achava natural ser a outra, não percebia que estava me matando. Hoje estou no Evangelho e me sinto livre. Mesmo assim, às vezes sou acometida por uma culpa fora do normal”, declara.

ADÚLTERO QUE ABANDONA AMANTE TEM DE INDENIZÁ-LA Nem sempre ter uma união paralela não significa deveres. Namorar homem casado pode render indenização devida pelo período do relacionamento. Uma decisão judicial deu ganho de causa para uma mulher que durante 12 anos foi concubina de um homem. Depois de se separar da esposa, o parceiro passou a ter com a concubina uma relação estável. Na separação, cinco anos depois, ela entrou com pedido de indenização. Foi atendida por ter provado que no período do concubinato ajudou o homem a ampliar seu patrimônio. O casal viveu junto de 1975 a 1987, enquanto o parceiro foi casado com outra pessoa. Depois, mantiveram união estável de 1987 a 1992. Com o fim da união, ela ajuizou ação pedindo indenização pelo período em que ele manteve outro casamento.
A 7ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul fixou indenização de R$ 10 mil. Para o desembargador José Carlos Teixeira Giorgis, relator da matéria, também deve haver a possibilidade do concubino ganhar indenização pela vida em comum. “Não se trata de monetarizar a relação afetiva, mas cumprir o dever de solidariedade, evitando o enriquecimento indevido de um sobre o outro, à custa da entrega de um dos parceiros”, justificou.
A mulher alegou que trabalhou durante os doze anos para auxiliar o parceiro no aumento de seu patrimônio e, por isso, reivindicou a indenização por serviços prestados. O desembargador Giorgis entendeu que a mulher deveria ser indenizada por ter investido dinheiro na relação.