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19 agosto, 2011

O preço do prazer: quem paga a conta do motel?


Regina Navarro Lins: É difícil entender que isso ainda esteja ocorrendo no século XXI

 

01/11/2010 10:42

Júlio é um arquiteto de 38 anos, separado, com três filhos. Um dia, ao chegar ao meu consultório, desabafou: “Não agüento mais essa história de que o homem tem que bancar tudo. Como se não bastasse a pensão que tenho que dar para meus filhos, da qual minha ex-mulher também usufrui, as mulheres com quem saio esperam que eu sempre pague tudo. E nisso minha vida sexual fica prejudicada: não tenho dinheiro para pagar sozinho toda vez que vou a um motel. Isso porque antes tenho que pagar o teatro, o jantar, o estacionamento... Será que as mulheres também não têm prazer no sexo? Elas não lutam tanto pela igualdade? Por que, então, não admitem ser iguais nessa área?”

Pensando na questão do Júlio, perguntei a várias pessoas se a mulher deve dividir a conta do motel. Para minha surpresa, sempre as opiniões se dividiam e se instaurava uma grande polêmica. É difícil entender que isso ainda esteja ocorrendo no século XXI, após mais de 40 anos de luta pela emancipação feminina. Resolvi então lançar a pergunta no meu site: “As mulheres devem dividir a conta do motel? Por quê?”
Respirei aliviada com o resultado: 69% dos participantes responderam Sim. A maioria então acha natural que a conta do motel seja dividida entre os dois. Só isso já significa um grande avanço, um sinal importante da mudança das mentalidades. Provavelmente, há algumas décadas, essa divisão nem seria cogitada... Aliás, uma mulher respeitável nem iria a um motel com o namorado.
Selecionei algumas respostas. Primeiro, das pessoas que ainda não conseguem aceitar a igualdade entre homens e mulheres e acreditam que o homem deve pagar todas as contas simplesmente pelo fato de ser homem.
“O homem tem que pagar a conta toda sim. Afinal, a mulher já paga depilação, maquiagem, cabelereiro, manicure, roupa íntima. E ele, não vai pagar nada?”
“A mulher deve dividir somente nas vezes em que tiver orgasmos muito intensos.”
"Não acho que a mulher deve dividir... eles poderiam ser cavalheiros..."
"É uma situação constrangedora."
"É engraçado, divido conta de bar, de restaurante, de táxi, mas de motel, não fico à vontade. Já dividi, mas me senti desvalorizada."
Por que é constrangedor? Por que a mulher se sente desvalorizada? Acho que só encontramos essas respostas se pensarmos na forma como, no sistema patriarcal, homens e mulheres foram ensinados a perceber a relação entre eles e o sexo.
É uma história bem antiga, de constante luta contra a opressão. Quando o patriarcado se estabeleceu, há cinco mil anos, a mulher tornou-se um objeto que podia ser comprado, trocado ou repudiado. Desde então ela sofreu todo tipo de constrangimento familiar e social. As mulheres foram humilhadas, menosprezadas, escravizadas e constantemente utilizadas como forma de prazer para os homens. Instalada a relação opressor/oprimido, elas não encontraram alternativa. Usaram a única arma que tinham para se defender: o corpo. Controlando a satisfação das exigências sexuais masculinas, conseguiam obter em troca vantagens, assim como jóias, vestidos, perfumes... Essa é a origem da prostituição.
Durante muito tempo a mulher continuou acreditando que só podia ser valorizada dessa forma. Então um homem não querer pagar alguma coisa para fazer sexo com ela significaria que ela não tem valor algum. É uma ideia absurda, que contribui para manter a mulher numa posição de inferioridade. Não adianta a mulher querer ser respeitada se não estiver disposta a arcar com o ônus da emancipação. Se as mulheres não acreditam, efetivamente, na igualdade entre homens e mulheres — e isso implica igualdade de direitos e deveres —, vão continuar, de alguma forma, sendo oprimidas.
Destaquei algumas respostas de quem acredita na igualdade de direitos e deveres:
“Acho que as pessoas que afirmam que o homem tem que pagar sozinho a conta do motel para fazer sexo com uma mulher a consideram uma eterna prostituta. Acreditam que ela está sendo usada e, portanto, quem usa é quem paga.”
"Se os dois têm condições de dividir a conta, nada é mais natural, pois se os dois sentiram prazer, é justo que os dois arquem com as despesas desse prazer."
“A mulher deve deixar de ser observadora passiva e assumir seu papel imprescindível de ser pensante, inteligente, autônomo.”
“Essa coisa de somente o homem pagar a conta do motel não condiz com a atual realidade que vivemos. Se as mulheres lutam por direitos iguais, devem dividir também os deveres. A mulher não é mais submissa ao homem como ocorria décadas atrás, portanto ela deve sim pagar a conta do motel.
"Se combatemos todos os dias a discriminação sexual e buscamos a igualdade entre homens e mulheres, a coisa mais natural é que se igualem os deveres, como os gastos e despesas..."
"Não vejo maiores problemas, na medida em que entendemos que a ida a um motel é um desejo de duas pessoas, portanto, nada mais justo que estas dividam também o ônus desse desejo.”
"Sou homem e acho natural a mulher dividir. Os dois ganham dinheiro e os dois têm prazer ao ir ao motel. Por que não dividir, como ocorre nos cinemas, restaurantes, etc?" 

“Não se pode querer igualdade nos empregos, nos salários recebidos, na divisão dos serviços domésticos, na capacidade feminina, na independência, nos sentimentos e desejos... e não aceitar a independência financeira. A mulher deve pagar sim e mostrar que conquistou seu espaço.”