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03 maio, 2011

Você acredita em alma gêmea?


Regina Navarro Lins: “Aprendemos a acreditar que amor é uma troca complementar"
14/11/2010 08:00

Paola, jornalista de 36 anos, está separada há quatro. Simpática e comunicativa, ela tem uma vida social bastante intensa. Muitos amigos e relações amorosas eventuais fazem parte da sua rotina. Um dia desabafou na sessão de terapia: “Quero alguém que me complete! Não tenho pensado em outra coisa. Cansei de ficar trocando de namorado, quero encontrar a minha alma gêmea, para me casar e ser feliz.”
Desde crianças somos levados a acreditar no casamento como única forma de realização afetiva.Passamos a vida esperando o momento de encontrar a “alma gêmea”, “a pessoa certa”, para, a partir daí, vivermos felizes para sempre. Paola quer encontrar alguém que a complete. Essa ideia de que ninguém é inteiro, de que falta um pedaço em cada um de nós é comum, mas bastante limitadora. Vive-se numa procura contínua do parceiro amoroso, e as frustrações daí decorrentes são muitas e desnecessárias. A complementação desejada não passa de uma ilusão, na verdade, ninguém completa ninguém. Nossas dificuldades e mesmo nosso sentimento de desamparo não podem ser resolvidos por meio do outro, e sim atenuados dentro de nós mesmos.
Entretanto, o anseio amoroso de todo ser humano parece ser o de recuperar a sensação de harmonia vivida antes do nascimento. O útero da mãe é o único lugar do mundo onde podemos obter a satisfação imediata de todas as nossas necessidades. Nele desconhecemos a fome, a sede e a falta de aconchego. Depois que nascemos, precisamos respirar com nossos próprios pulmões, reclamar da fralda molhada, nos desesperamos com a cólica. Somos tomados por um profundo sentimento de falta. Uma angustiante sensação de desamparo nos invade. Sem retorno ao estágio anterior, isso nos acompanhará por toda a vida.
A criança dirige intensamente para a mãe sua busca de aconchego. As relações amorosas do adulto funcionam mal porque a maioria tende a reeditar inconscientemente com o parceiro a relação típica da infância. E isso fica claro na forma como se vive o amor, só se aceitando como natural se for um convívio possessivo e exclusivo com uma única pessoa. O condicionamento cultural impõe como única forma de atenuar o desamparo uma relação amorosa fixa e estável: o casamento.
Assim, todos desejam se casar. Ninguém questiona se é mesmo a única forma de realização afetiva. O casal constrói uma tela de proteção contra o mundo e tenta reaver o paraíso simbiótico que tinha no útero da mãe. Ilusão que dura pouco, incapaz de se sustentar na realidade do cotidiano.
Existe uma resistência geral em admitir que o amor pode ser vivido de forma intensa e profunda fora de uma relação entre duas pessoas. O amor romântico alimenta a ideia de que é possível a fusão entre o casal, ou seja, de que os dois podem se transformar numa só — da mesma forma que vivemos com a mãe antes de nascer.
Aprendemos a acreditar que amor é uma troca complementar. A pessoa amada, por possuir o que não existe em nós, vai suprir nossas carências, não deixando que mais nada nos falte. Assim, amor, desejo, gratidão e dependência se associam de forma a inviabilizar uma relação afetiva realmente satisfatória. A fantasia de fusão com o outro o torna tão indispensável para a nossa sobrevivência emocional, que o controle e o cerceamento da liberdade faz parte da vida de um casal.
As pessoas que já conseguiram se livrar da ilusão do amor romântico não têm medo de se perceber sozinhas. Sabem que não podem resolver suas necessidades por meio do outro nem precisam dele para se sentir completas. E o mais importante: não têm motivo para abrir mão da própria individualidade.