Tradutor

http://1.bp.blogspot.com/-cTQ6nQS_FEg/T-9PuIglwxI/AAAAAAAABG4/NILfi6iRsc8/s1600/banner-amor.jpg

11 janeiro, 2011

Prazer sem limite sado

Homem e mulher; dono(a) e escravo(a); um pouco sobre o universo do BDSM, onde a dor física e psicológica é parte do jogo

 

 



"Eu tenho um comportamento sádico. E ela (minha escrava) é masoquista. Tem prazer imenso em ser chicoteada, torturada e passar por situações de medo. Agulhas são uma das coisas que nos dão prazer; são transpassadas na pele, com finalidade de tortura. Em certa hora percebo que ela tem pânico de locais fechados, pois é lá que vou colocá-la. Normalmente, o climax vem no spanking ou em situações de medo extremo. Nesse momento, as lágrimas e a dor para ela têm a equivalência de um orgasmo”, relata Senhor Verdugo.
Ele tem 51 anos, é administrador, mora em São Paulo, e sua querida, {bruna}_Verdugo, é submissa masoquista, tem 38 e vive em Aracaju. Tal grafia é para mostrar, por meio das chaves, que ela pertence ao Senhor. Por determinação do dono – sim, ela o reconhece como tal –, Bruna é quem viaja a seu encontro. Como gentileza nunca é demais, Verdugo paga as passagens de avião. “Vivemos uma relação muito prazerosa, há mais de três anos. A satisfação de uma masoquista está na dor, na humilhação, e é por este caminho que também tenho meu prazer”, diz Senhor Verdugo.


Ficou chocado? Achou estranho? Pois esqueça, caro leitor, seus pensamentos românticos ao estilo Romeu para Julieta: “deixai então, ó santa! que esta boca mostre o caminho certo aos corações.” Passe longe de julgamentos morais ao ler o relato verídico acima. Porque eles não têm lugar no BDSM, – abreviação para bondage (técnicas de amarrações e imobilização), dominação, sadismo e masoquismo – universo que compreende fetiches e modalidades de método em comum: impor e receber imposição de poder explícito e consensual. Na prática, pode ir do gosto por chicotear e ser chicoteado, fazer papel de animalzinho de estimação, ter os seios amarrados com cordas e arames farpados e até o uso de cateter para controle das necessidades fisiológicas do submisso.
Ui, não parece humilhante? o diretor do instituto Paulista de Sexualidade, Oswaldo Rodrigues Júnior, lembra que são os valores morais que determinam se algo é ou não humilhação. Se é doloroso e negativo ou não. “Gostar de uma expressão sexual depende de vivências anteriores. Associar uma experiência a uma emoção positiva ou dar significado positivo a uma emoção negativa.” Os adeptos do BDSM falam que a humilhação também pode ser vista como quebra de limites psicológicos. A dor é uma das variações, e dela nasce a percepção do prazer. Lembra da musiquinha: “só um tapinha não dói”? É por aí. Então, nossa amiga no início da matéria não está sofrendo, conforme pensamos, equivocadamente. Muito menos o Senhor Verdugo é um homem violento. “A prática do BDSM consiste no sadomasoquismo erótico e extremamente consensual, com objetivo do prazer mútuo”, explica ele.
DOMINADORA B.: cinto de castidade de presente para o escravo
DOMINADORA B.: cinto de castidade de presente para o escravo
Consensual; palavrinha fundamental no BDSM, pois não se submete o outro a torturas ou ações além de suas possibilidades ou necessidades. De tapinhas apenas para demonstrar a submissão até cortes de pele e chicotadas com sangramento, tudo é pré-definido. “A execução das fantasias depende dos praticantes seguirem a consensualidade e o cuidado com a saúde do outro. Por isso, buscam estudar e conhecer o limite do parceiro para que a imposição seja dosada. É o que permite a vivência de sensações e emoções que, fora do contexto, seriam expressões de violência”, explica Rodrigues Júnior.
No oposto de nossa submissa, está a dominadora B., carioca, designer de moda, 40 anos: “Sempre fui naturalmente dominante no sexo. Portanto, não foi novidade me ver dominando alguém de verdade.” Amante da podolatria, fetiche de adoração por pés, no momento está sem escravo. “Me envolvi por cinco anos com um masoquista submisso, que era casado. Terminamos recentemente, mas até hoje ele se considera meu”, conta. “Dominação e submissão eram nossa maneira de amar um ao outro.” B. ficava excitada controlando a castidade do companheiro. Como prova de fidelidade, ele lhe deu de presente um cinto de castidade masculino. “Quando estávamos juntos o deixava com o cinto o maior tempo possível. Sob o terno ele o usava com minha lingerie, inclusive meias 7/8 e ligas”, diverte-se ela.
Mas não é que até estes corações tão palpitantemente crueizinhos também têm suas fraquezas? “Apesar de separado, ele continuou casado no papel, tem filhos... isso me incomoda um pouco. Ele ficou livre e não ficou, enquanto eu continuo livre como sempre.” Hoje, B. está só.
“Para o BDSM só há uma regra: ser são, sadio e consensual (SSC)”, afirma o diretor de teatro e escritor que identificaremos como mestre Yago. “Ainda menino, com oito, nove anos, ficava excitado ao ver filmes com cenas das mocinhas amarradas, raptadas. Na adolescência me sentia o patinho feio: como podia estar apaixonado por uma garota e querer chicoteá-la? Claro que não o fiz.”
EM CENA: o sádico Senhor Verdugo dá ordens à sua sub
EM CENA: o sádico Senhor Verdugo dá ordens à sua sub
 
Agora, aos 45 anos, é um sádico dominador, adepto do BDSM há 26: “Gosto de dominar quem gosta de se submeter.” Frisa que dominar não é gritar, é postura. “Saber castigar na hora certa.” Controlar até o tipo de marca corporal que vai deixar na submissa. Yago vive uma 24/7: relação de dominação/submissão todas as horas do dia, por toda a semana. Em sua opinião, no convívio baunilha (o nosso, tradicional) cada um dos dois tenta controlar a relação, na hora do sexo, a cabeça está a mil: estou gordo, magro, como está a performance, em que grau está minha ereção? O que o outro está achando de mim? Numa sessão de BDSM estas questões não importam. A dor, para Yago, não deixa o pensamento voar. Toda energia está ali concentrada, o que faz o sexo bem mais prazeroso. “É simbiose, difícil dizer onde começa o sádico e o masoquista. Quando minha sub deixa de ter prazer eu também deixo.” Ele e sua sub têm uma outra sub.
Mas nada de pedir socorro ou falar: “pare” se a mão pesar; isto é muito corriqueiro. O que existe é a safeword: palavra pré-combinada que determina quando parar o jogo. Afinal, não deve ser fácil receber eletrochoques – mesmo que com a finalidade de contração muscular para induzir ao orgasmo – ter a superfície da pele estimulada por materiais abrasivos, ser imobilizado ou ficar debruçado em posição pouco nobre sobre cavalete. Pra tudo isso há técnicas, pois são métodos de tortura: o uso de cera líquida, em especial a de abelha, em mucosas anal e vaginal pode ser arriscado. Há partes do corpo em que não se pratica o spanking sobre risco de lesar órgãos.
ACM, que no mundo baunilha é jornalista e advogado, é especialista em bondage. Nos anos 90 foi estudar e trabalhar em Amsterdã, onde aprendeu a construção dos nós assimétricos que povoam o imaginário: quem não se lembra da personagem Penélope Charmosa, do inocente desenho infantil, amarrada e imobilizada sobre trilhos do trem por conta das façanhas do malvado Tião Gavião? Nos anos 50, o produtor norte-americano irving Klaw fotografou, para a capa da revista Playboy, pin-ups amordaçadas em poses de bondage. Sem falar no shibari ou kinbaku, amarrações no estilo oriental que remetem à era feudal e à história dos samurais. Nele, a dorei (submissa) fica com o corpo marcado pelas cordas de sisal bem apertadas. Funcionam como tatuagens momentâneas, assinadas pelo dono.
{alessa} _ SD: prazer pela submissão
{alessa} _ SD: prazer pela submissão
Amante do fetiche, ACM afirma que as consequências de imobilizações e amarrações malfeitas podem ser fatais. “Não se brinca com cordas ao redor do pescoço. é necessário conhecimento para evitar o estrangulamento.” Nó cego, nem pensar. Em se tratando de cordas, correntes e algemas, uma faca afiada ou chaves devem estar ao alcance da pessoa imobilizada, caso aconteça algo com o imobilizador. Não se pratica suspensão de imobilizado sem a supervisão de alguém experiente. A queda pode ser mortal ou gerar traumatismos graves. Sugestão para principiantes: o scarf fetish, amarrações com os suaves e escorregadios lenços de seda.
Gente, mas tudo isto é normal? “Este conceito vem no século 19, quando o poder da Igreja deu lugar à ciência. Do pecado passou-se à doença e assim havia que se encontrar algum mecanismo que explicasse tal critério. Buscou-se isso nas estatísticas: o que não for praticado pela maioria é doença, anormal. O problema é que no sexo há muitas variáveis a considerar”, avalia Rodrigues Júnior.
A psicanalista Marina de Resende Lemos considera que todos temos algum grau de sadismo e fantasias masoquistas. “A primeira coisa que queremos é agradar o outro e muitas vezes nos colocamos como objeto.” Mas pontua que a linha divisória entre perversão e fantasia é tênue. Até mesmo Freud ficou às voltas por anos com a questão: por que um indivíduo quer ser levado ao limite? Serão o sexo e o cotidiano dos baunilhas tão maçantes assim?
Na opinião de Maria Submissa, 57 anos, psicóloga, jornalista e três filhos do primeiro casamento, batizada por Senhor Darius, que ela reconhece como seu dono, como {alessa} _ SD, não se trata disso. É, sim, a oportunidade de realizar-se na essência, ter um companheiro que não só a entende, mas a estimula a ser como é. “A submissa, mesmo não sendo masoquista, deseja manifestar submissão emprestando o corpo para o prazer do dono.” Por isto, em certas ocasiões usa coleira (assim como um cachorro) e até dorme com ela caso Darius mande. Se posta de joelhos com as mãos para trás, beija-lhe os pés em sinal de respeito e, algumas vezes, no chão, trata-o por Senhor.
“Eu o amo muito e estamos juntos há um ano e meio. Neste tempo, meu treinamento foi voltado para o combate à minha impaciência e geniosidade.” Nem sempre os castigos por má conduta levam a dores físicas: podem relacionar-se ao sofrimento psicológico, quando, por exemplo, vê-se privada do carinho e atenção do dono. São medidas repreensivas e educativas. Entre as práticas favoritas de Maria estão o spanking, bondage e o dogplay (jogos de cachorro, em que adquire comportamento de animal de estimação e atende ao chamamento de cadela).
Fala que se sente protegida pelo dono e para esta entrevista teve que pedir-lhe autorização; ele esteve a seu lado enquanto respondia. “Ser submissa é uma experiência única para mim, que se renova a cada superação de limite, a cada dificuldade vencida, a cada gesto de dedicação que faço e é reconhecida como demonstração de minha entrega. Entendo que a relação BDSM envolve aspectos que uma relação baunilha não abarque, como punições físicas e o adestramento, mas é esta diferença que me atrai e sempre busquei.”
Como falamos muito em cordas, amarrações e nós, ao final desta leitura minha cabeça está torcida tentando entender este universo. E a sua?

DICIONÁRIO BDSM

 
Bondage: atividades de imobilização com cordas, lenços, algemas de couro ou metal, tornozeleiras, spread bar (barras de alargamento que servem para manter pernas e braços abertos). As cenas de bondage remetem ao cativeiro. Imobilizações ou amarrações são feitas do tórax para baixo
Cages: Gaiolas que podem ser de metal ou madeira grandes o suficiente para acomodar uma pessoa
Cinto de castidade: Aparelho fechado por cadeado ou outro dispositivo que as mulheres usavam, principalmente na Idade Média, com finalidade de impedir relações sexuais. Dentro do BDSM, normalmente são de couro ou metal não oxidante. Para os submissos homens existe equipamento que envolve o pênis e torna a ereção extremamente dolorosa
Coleira: Símbolo de entrega usada por um(a) submisso(a). Pode ser utilizado como equipamento em imobilização
Cruz em x ou cruz de santo André: Cruz em forma de x, com argolas em todas as extremidades. Utilizada para imobilizar o escravo(a)
Masoquismo: Gosto erótico pela dor, humilhação em ser dominado(a)
Palmatória: Pedaço de madeira ou borracha, pesada, às vezes furada, similar a uma raquete de pingue- pongue, mas ligeiramente afilada, utilizada para spanking
Ponyboy: Submisso treinado para agir e se comportar como cavalo
Sadismo: Denota a excitação e prazer provocados pelo sofrimento alheio
Spanking: Nome utilizado para o ato de bater, principalmente na região das nádegas. Não confundir com violência física. Nenhum submisso(a) aceita a ideia de que para entregar- se deve apanhar. O spanking visa o prazer mútuo e é forma de potencializar o desejo. Envolve bater com as mãos, chicote, chibata, vara, chinelo ou palmatória. Nas palmadas, não é a força que importa, mas ritmo e constância. Rosto e pescoço são áreas proibidas em virtude da quantidade de tecidos e órgãos que podem ser lesados (olhos, nariz, boca, cabeça)
Suspensão: Técnica de imobilização onde o peso do(a) submisso(a) é totalmente ou parcialmente suspenso por algemas e tornozeleiras especiais
Fonte: Portal Desejo Secreto

HISTÓRIA DO BDSM

 
  • 1918: Lançamento da revista London Life, a primeira comercial com refe- rências fetichistas. Nas páginas são veiculados os primeiros anúncios de encontros e festas privadas
  • 1946: Revista Bizarre, cujo conteúdo era voltado para o bondage e o sadomasoquismo. Distribuída em clubes e ambientes sadomasoquistas
  • 1951: Fundado, em Nova Iorque, o primeiro clube reconhecidamente sadomasoquista: Shaw’ s
  • Nos anos 60 e 70: A Europa assiste o surgimento das associações sadomasoquistas: grupo Berlin, na Alemanha, Sixty-nine Club, na Inglaterra, VSSM, na Holanda, Boys Cuir France, na França e MSC, na Bélgica
  • 1969: Primeira festa pública na cidade de Colônia, na Alemanha, que reúne mais de 100 pessoas
  • 1971: Proliferação de grupos ao redor do mundo que passam a reunir até 400 pessoas cada. Na Europa começam a ser reconhecidos os switchers, indivíduos que têm prazer em dominar e também ser dominados
  • 1987: Fundado o grupo alemão Sündikat Hamburg, que desenvolveu intensa atividade social e editorial. Realizaram a primeira grande festa S/M européia, na galeria Abriss, em Hamburgo, reunindo mais de 700 pessoas. Nos Estados Unidos são contabilizados cerca de 2 mil grupos S/M e na Europa 180
  • Década de 90: a partir daí intensifica-se o desenvolvimento de casas, clubes, associações e literatura do gênero. E também foi criado o grupo de discussão ALT. SEX, na internet. A sigla BDSM populariza-se. A interação entre praticantes e interessados torna-se mais dinâmica. É farto o material de pesquisa

Nenhum comentário:

Postar um comentário