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04 outubro, 2010

síndrome do pânico

síndrome do pânico



"O tratamento medicamentoso da síndrome do pânico sem se levar em conta o transtorno em que essa síndrome aparece, é meramente paliativo, podendo, em alguns casos, ser perfeitamente dispensável"
No texto anterior (clique aqui), apresentei os sintomas da síndrome do pânico.

Desses sintomas, Emmet, logo ao entrar em terapia comigo, reconheceu os seguintes como seus:

1. ataques paroxísticos de angústia;
3. taquicardia
7. sentimentos de irrealidade
7.2. ou ao ambiente (desrealização)
8. medo de
8.1. morrer
8.2. perder o controle
9. tremores
12. dispnéia (dificuldade de respirar)
13. problemas digestivos (azia)
14. suor excessivo (hiperidrose) ou ataques de suor
14.1. frio
15. mãos e pés frios
20. necessidade frequente de urinar
21. prisão de ventre
27. insônia,
28. agorafobia (medo de ficar em lugares onde seria difícil receber ajuda, no caso de um ataque de pânico).

Destes sintomas, apenas os tremores não me foram relatados, mas o contato com Emmet me fez ver que estavam presentes. Os *ataques paroxísticos deangústia, a taquicardia, o medo de morrer e de perder o controle, a dispnéia e a agorafobia eram extremamente intensos, capazes de produzir um nível de incômodo suficiente para PARALISAR A VIDA de Emmet, levando-o, por exemplo, a ter que ser acompanhado por alguma pessoa – preferencialmente a mãe – em suas tentativas de ir à rua.



Vou atrasar minha contribuição sobre o conceito de “mente”, algo que interessará certamente mais a profissionais do que a leigos, para fazer uma contribuição de maior utilidade pública. Ela diz respeito à tal “Síndrome do Pânico”.

A massa do público leigo e, até onde posso perceber, uma significativa quantidade de profissionais, está bastante mal informada sobre esse diagnóstico, que, desde o surgimento do Alprazolam, na última década de 70, passou a ocorrer com multiplicada frequência. Minha presente comunicação tem por objetivo minimizar essa lacuna.

Começo por relembrar a diferença entre sintoma, síndrome, transtorno, etiologia e patogenia.

SINTOMA - é a menor unidade de análise de uma doença. "Taquicardia" é um sintoma, "tristeza" é um sintoma;

SÍNDROME - é um conjunto de sintomas que costuma ocorrer simultaneamente. A "Síndrome de Pânico", por exemplo, apresenta sintomas como sensação subjetiva de pavor, taquicardia, dispnéia, dispepsia, tonteira, sensação de morte iminente etc..Vou, adiante, oferecer uma listagem mais completa dos sintomas da síndrome.

Para melhor entendermos o que mais nos importa aqui, seja, a DIFERENÇA entre SÍNDROME e TRANSTORNO, é preciso saber o significado de dois outros termos: etiologia e patogenia.

ETIOLOGIA - é a CAUSA de um sintoma, de uma síndrome ou de um transtorno. Assim, por exemplo, suspensão da ingestão de álcool em um usuário habitual e excessivo dele é a causa (etiologia) da "síndrome de abstinência alcoólica", que pode apresentar desde sintomas leves como insônia, a sintomas graves, como convulsões.

PATOGENIA - é o processo que ocorre entre a ação da causa e a produção do(s) sintoma(s). Para ilustrar, consideremos a patogenia da "síndrome de abstinência alcoólica". O álcool tem um efeito sedativo sobre o cérebro. Em uma pessoa que bebe muito desde longa data, o cérebro fica exposto quase continuamente, durante longos períodos, a esse efeito depressor. Com o passar do tempo, o cérebro ajusta sua própria química para compensar tal efeito, produzindo substâncias químicas naturalmente estimulantes (como a serotonina ou a noradrenalina - “parentes” da adrenalina) em quantidades maiores que as normais. Se o álcool é retirado de repente, o cérebro se comporta como um veículo acelerado que perdeu os freios. Consequentemente, a maioria dos sintomas da abstinência alcoólica são sintomas de superestimulação cerebral.

TRANSTORNO - quando se supõe que uma síndrome pode ocorrer devido a causas diversas (etiologias) – saibamos nós ou não que causas são essas – dizemos que ela pode ocorrer em diversos "transtornos" (ou doença, = entidade nosológica, ou nosográfica).

A SÍNDROME de Pânico, por exemplo, ocorre principalmente em três grandes tipos de TRANSTORNO: nos Transtornos devidos ao Uso de Substâncias Psicoativas (F10 a F19 da décima versão do Código Internacional de Doenças), nos Transtornos Fóbico-Ansiosos (F40 do CID-10) e no Transtorno de Pânico (F41.0 do CID-10).

A lição essencial que devemos tirar do acima exposto é a de que: a "Sindrome de Pânico" pode ocorrer em MAIS DE UMA "DOENÇA" (= TRANSTORNO). Para que seja tratada adequadamente, é necessário que se saiba QUE DOENÇA (= TRANSTORNO) É ESSA.

Caso contrário, o paciente ou (A) NÃO FICARÁ JAMAIS CURADO ou (B) terá apenas seus sintomas MANTIDOS SOB CONTROLE durante um TRATAMENTO INTERMINÁVEL. 

Este é o segundo artigo da série sobre síndrome do pãnico, para ler a primeira parte - clique aqui. Vamos agora à segunda parte deste tema.
A descarga *paroxística de angústia é uma das possíveis expressões do que se chama “reação ergotrófica”, ou seja, uma produção extra de energia, patrocinada por nosso sistema nervoso autônomo. Esse tipo de reação é desencadeada toda vez que um animal se percebe em situação de perigo, pois tal “energia extra” deverá servir-lhe para fugir ou para lutar (“ergon = trabalho, em grego). Ocorre que, se tal “reação ergotrófica” ocorre na AUSÊNCIA DE UM PERIGO REAL, o sujeito não tem onde empregar de forma funcional o excesso de energia produzida e torna-se vítima da reação que, em situações de real perigo, deveria servir-lhe de apoio. A reação ergotrófica pode ser desencadeada por dois tipos de fatores: (a) tóxicos e (b) cibernéticos (relativos a informação).

O desencadeante é cibernético toda vez que percebo um estímulo que considero perigoso. Se estou calmamente sentado em uma sala de cinema e ouço gritarem “Fogo!”, essa INFORMAÇÃO desencadeia em mim esse tipo de reação, pondo a minha disposição uma quantidade extra de energia para que eu possa colocar minhas pernas a correr. Ocorre, entretanto, que a mesma quantidade extra de energia pode ser liberada se eu, que tenho fobia de baratas, vejo uma. Aqui, não há razão objetiva para produção de uma reação ergotrófica e o ataque (= síndrome) de pânico que ela produz é expressão do que o Código Internacional de Doenças (CID-10) classifica como Transtorno Fóbico-Ansioso, que deve ser tratado psicoterapicamente. A medicação, nesses casos, só tem sentido se for claramente entendida pelo profissional e por seu paciente como uma medida paliativa, que objetiva “alívio” e não “cura”. O estímulo fóbico – em nosso exemplo, a barata – nem sempre é óbvio e pode levar meses até que terapeuta e paciente sejam capazes de descobri-lo, mas, quando descoberto e devidamente tratado, a reação de pânico deixa de ocorrer.

Penso usar o caso de Emmet, atualmente trabalhando psicoterapicamente comigo, para exemplificar esse processo.

Para falar das possíveis causas tóxicas da Síndrome do Pânico, vale rever o conceito de “toxidade”.

“Toxidade”, embora muitos não se deem conta disso, é uma relação. É a relação com um ser vivo de um elemento - químico ou, mais raramente, físico – capaz de produzir distúrbios funcionais ou, até mesmo, a morte. Desde Paracelso (1493-1541), reconheceu-se que, se, por vezes, para uma espécie, um elemento é tóxico por si só (o cianureto, por exemplo, para nós humanos), boa parte deles, todavia, depende, para apresentar toxidade, de que se preencham exigências relativas à dosagem (o que, segundo o citado Paracelso, fazia a diferença entre remédio e veneno) e às condições do organismo (sua natureza, sexo, idade, peso, estado hormonal, psicológico, de nutrição, etc.). Entende-se, portanto, que, segundo as condições do organismo, a mesma dosagem de um certo elemento pode ser tóxica ou não. Essa “relação tóxica” pode ser estabelecida entre um organismo e um elemento exógeno (= proveniente do ambiente, por exemplo, o tal cianureto) ou entre ele e um elemento endógeno (= por exemplo, um hormônio).
Síndrome do Pânico poderia ter uma origem tóxica?

Voltemos, então, à Síndrome de Pânico. Poderia ela ter origem tóxica? Sem dúvida. Comecemos pela toxidade “exógena”. A ingestão de cocaína pode provocar um ataque de pânico. Nesse caso, a Síndrome do Pânico seria classificada pelo Código Internacional de Doenças como F14 (Transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de cocaína). Como se vê, a “toxidade” da cocaína está oficialmente contemplada entre os possíveis causadores da Síndrome do Pânico.

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