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29 outubro, 2010

mulheres vão ter o seu Viagra?





A documentarista americana Liz Canner acha que não vão. Depois de pesquisar a sexualidade feminina, Liz não acredita que seja possível criar uma pílula que seja tão eficiente quanto o foi o Viagra para a vida sexual dos homens – e muitos médicos e cientistas têm a mesma opinião. No mês passado, o FDA (Food and Drugs Administration), órgão americano equivalente à Anvisa no Brasil, negou a aprovação da flibanserina, que tentava ser a primeira “pílula do orgasmo feminino” no mercado. A droga, criada pelo laboratório alemão Boehringer Ingelheim, não foi considerada eficiente o bastante no que se propunha: melhorar a vida sexual das mulheres.A corrida para encontrar o Viagra feminino – um mercado estimado em 2 bilhões de dólares – não terminou, mas, em seu documentário Orgasm Inc., relançado recentemente, Liz  mostra algumas das razões pelas quais ela será muito mais longa e cheia de percalços do que a que levou à descoberta da droga da ereção masculina. Nesta entrevista ao Mulher 7×7, ela fala sobre como estudar a busca da indústria farmacêutica pela “pílula do orgasmo” a ajudou a entender a sexualidade feminina e como ser mais feliz no sexo.
Por que você decidiu fazer um documentário sobre a “indústria do orgasmo”?
Liz Canner –
Nunca planejei fazer um documentário de denúncia sobre a indústria farmacêutica. Venho fazendo documentários há mais de dez anos sobre direitos humanos e estava extremamente cansada. Porque, quando você faz um documentário, assiste às mesmas cenas centenas de vezes. E eu estava começando a ficar deprimida com a condição humana, tendo pesadelos com o que havia filmado. Eram temas muito pesados, como genocídio. Então decidi fazer um documentário sobre a mulher e o prazer. Comecei fazendo uma pesquisa sobre o que a ciência sabia sobre o prazer feminino. E há uma história de tornar a sexualidade feminina em uma patologia, como a histeria, a ninfomania. É fascinante e interessante notar que, geralmente, há muitas razões políticas e poucos dados científicos por trás dessas visões. Do nada, uma empresa farmacêutica me chamou para editar vídeos eróticos para mulheres, que eles usariam em um estudo sobre a eficácia de um creme que indiziria o orgasmo. Aceitei o convite e foi então que fiquei sabendo da chamada “disfunção sexual feminina”. Não tinha visto esse termo em nenhum lugar na literatura científica. Nem tinha visto o número que eles estavam divulgando, de que 43% das mulheres sofriam dessa disfunção. Isso me deixou muito curiosa e comecei a fazer perguntas. Mas eles não tinham respostas para todas elas porque não há evidências científicas suficientes sobre o assunto.

Mas o que é a “disfunção sexual feminina”?
Para desenvolver um remédio é preciso uma doença. Então 19 médicos formaram um comitê que definiu o que é a “disfunção sexual feminina”. O problema é que esses 19 médicos tinham ligações com 22 empresas farmacêuticas. Basicamente, a doença foi definida por pessoas ligadas à indústria e foi definida de maneira muito ampla. O risco é que mulheres saudáveis acabem tomando remédios de que elas não precisam e que podem lhes trazer danos. Dado o potencial desse mercado, eles não economizarão dinheiro para convercer as mulheres de que elas estão doentes.
Você foi ouvida pelo FDA no painel que decidiu pela não-aprovação da droga. Sobre o que você falou?
Durante a sessão falei sobre as ações de marketing do novo medicamento, que são abusivas. Parte do problema é que essa droga não funciona muito bem, então, a empresa vai ter um trabalho muito maior para convencer as mulheres a consumi-la. As empresas estão gastando muito dinheiro em marketing não apenas para dizer que muitas mulheres com baixa libido têm disfunção sexual como para convencer que essa baixa de libido é resultado de um desequilíbrio de neurotransmissores. E não há evidências científicas suficientes de que esse seja o problema. Ser vítima de abuso sexual ou estar em uma situação de estresse pode estar por trás da falta de desejo. Basicamente, o FDA olhou para os dados e decidiu que a flibanserina não mostrou evidências suficientes de seu benefício. A melhora era muito próxima da obtida com uso de placebo e não havia dados sobre o aumento da libido – a pesquisa considerava apenas o número de relações sexuais satisfatórias. Além disso, a droga tinha entre os efeitos colaterais desmaios, tontura, depressão. O sentimento geral foi que o benefício não era superior aos riscos.

O que poderia acontecer se a flibanserina tivesse sido aprovada?
O risco é que a indústria farmacêutica consiga fazer as mulheres acreditarem que há algo errado com elas se as experiências sexuais delas não foram iguais às dos filmes. Se você as fizer acreditar que as mulheres precisam ter um orgasmo toda vez que transarem ou que têm que pensar em sexo o tempo todo, então, quase todo mundo, em algum ponto da vida, vai ter essa disfunção. Mas isso não é real.

Não podemos ignorar, porém, que há algumas mulheres que realmente sofrem uma disfunção sexual por problemas clínicos, como por exemplo depois de uma histerectomia ou ao tomar antidepressivos. Há também o vaginismo ou o estreitamento vaginal, que causam dor durante a relação. Há algumas condições médicas que realmente afetam o desempenho sexual, mas elas não são a maioria.
Ouvimos muito que muitas mulheres estão infelizes com suas vidas sexuais. Até que ponto isso é verdade?
É muito difícil avaliar isso, saber os números. Depende também das suas expectativas. Mas é fato que, nos Estados Unidos, não temos uma educação sexual muito boa. Somos uma sociedade esquizofrênica: ensinamos a abstinência e não falamos sobre o clitóris e sobre como 75% das mulheres precisam estimulá-lo para atingir um orgasmo. Nós não ensinamos o básico. Ao mesmo tempo, as crianças entram em contato com a pornografia aos 11 anos. Você tem expressões extremas de sexualidade e instituições repressoras. Isso torna as coisas muito confusas para as pessoas e facilita a percepção de que há algo errado com a vida sexual delas.

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