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06 outubro, 2010

Baixa frequência do sexo no casamento tornou-se motivo de preocupação, culpa e cobrança

Baixa frequência do sexo no casamento tornou-se motivo de preocupação, culpa e cobrança

Homens e mulheres admitem não ter tempo para o sexo

Pesquisa em 10/07/2009






“Será que eu deveria estar transando mais?”, pergunta-se a professora recém-casada de 24 anos.
“Certamente eu queria transar mais. Mas muitas vezes, eu mesmo sou o culpado, por cansaço, estresse ou até mesmo preguiça”, admite o cirurgião plástico de 38 anos.
“Temos uma filha de dois anos que chora à noite, acorda bastante e nos dá muito cansaço. Mas isso não justifica o fato de meu marido não querer transar como antes”, reclama a funcionária pública de 43 anos.
Homens e mulheres admitem aquilo que poucos têm coragem de dizer até para o próprio parceiro: na maratona diária da vida de um casal, muitas vezes falta tempo ou ânimo para o sexo. Com jornadas de trabalho cada vez mais prolongadas, filhos para cuidar e compras no supermercado a fazer, a frequência do sexo no casamento tornou-se motivo de preocupação, culpa e cobranças em muitos lares.
Um levantamento da International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR) em 2009 revelou que 19% dos entrevistados tiveram diminuição na libido por conta do estresse, cujos sintomas, afirma a presidente da Isma-BR, Ana Maria Rossi, não se devem a grandes tragédias mas às pequenas atribulações do dia a dia. No meio das multitarefas de hoje, em que todos estão conectados o tempo todo, sexo nem sempre é prioridade, assim como ter uma boa alimentação ou as sonhadas oito horas de sono.
– O dia continua tendo 24 horas, mas muitas vezes as pessoas estão tirando do próprio prazer o tempo que falta para o trabalho, para cuidar dos temas do filho ou de qualquer outra tarefa – destaca Ana Maria.
Pior: às vezes o sexo entra para a lista de tarefas como uma atividade a mais de que se precisa desincumbir.
– As pessoas não estão necessariamente transando menos, mas investindo menos no sexo. Às vezes, transam mais por obrigação do que por prazer: “Ah, faz duas semanas que não transamos, temos de transar”– avalia a sexóloga Lina Wainberg. – Não se trata apenas de transar o suficiente, mas de investir no casal.
Passam pelo divã de terapeutas sexuais tanto dilemas de quem transa mais por obrigação, por medo de ser traído ou de perder o parceiro, quanto queixas de quem vê sua mulher ou seu marido cada vez mais distante na cama. Embora os homens se sintam menos à vontade para negar sexo alegando cansaço, esta situação já não é mais novidade nos consultórios – nem nos lares, a julgar pelos depoimentos nesta reportagem. Mas, ao fim da primeira década dos anos 2000, esse ainda é um assunto sobre o qual poucos falam abertamente.
– Muitos casais não têm intimidade para conversar sobre o assunto – avalia a psicóloga e sexóloga Lúcia Pesca. – Todo mundo se acha um ET, pensando que os outros transam mais vezes, que só eles transam duas vezes por semana ou menos. Mas já é sabido no estudo da sexualidade humana que não é a frequência do sexo que vai proporcionar a felicidade sexual, mas a qualidade dos momentos de intimidade.
A liberdade sexual conquistada implica tanto o direito a sexo satisfatório (não à toa apontado como uma das condições para ter qualidade de vida pela Organização Mundial de Saúde), quanto poder dizer “não”, quando assim desejar. Assim, o que cabe aos casais pós-feminismo e pós-revolução sexual? Sentir-se cobrado a transar mais e melhor, com toda a informação de que dispõem em um mundo hiper-sexualizado ou dar-se o direito de adaptar o sexo à rotina corrida que a maioria vive? Ou ambas as coisas?
Entre tantas questões, a pergunta clássica ainda é: “Será que estou dentro no normal?”. Então, os casais se vêem cercados por números: as X vezes que cada um acha que deveria transar, o tanto que os amigos dizem que transam, o outro tanto que as pesquisas apontam como média e até as cinco vezes por semana, já sugeridas pelo ministro da saúde, José Gomes Temporão. Qual, enfim, deve ser a medida? Simples, respondem em coro os sexólogos: esqueça os amigos e as pesquisas e pergunte a você mesmo.
Autora do Estudo da Vida Sexual do Brasileiro, o mais completo já realizado no país, e coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Carmita Abdo esclarece: as pesquisas são feitas para traçar perfis de comportamento, não para apontar metas a ninguém. Assim, as médias apontadas em 2003, e reiteradas no estudo Mosaico Brasil, em 2008, de três transas por semana para homens e duas para mulheres – sendo que eles gostariam de poder transar, em média, seis vezes por semana, e elas, quatro –, indicam apenas um coeficiente matemático e um descompasso entre o ideal e a realidade.
– A média é um parâmetro, mas nessa média há quem faça cinco vezes por semana e quem faça uma vez a cada 15 dias. Média não significa que a maioria faz assim, mas que há uma grande variação que, somada e dividida, dá esse número – destaca Carmita Abdo. – Mais importante do que se preocupar com a média dos casais em geral é compatibilizar o ritmo dos dois na relação.
Eis talvez o maior desafio: por maiores que sejam as demandas da vida contemporânea, cada um reage a seu modo. Se há quem prefira virar para o lado e dormir, também há os que jamais percam o pique para o sexo ou mesmo encarem a transa como a melhor forma de relaxar depois de um dia extenuante. Muito mais do que as comparações com médias nacionais e com o quanto os amigos dizem transar, o descompasso dentro do casal é que faz da frequência sexual um problema que pode gerar afastamento e ressentimentos.
– Se um dos dois está trabalhando demais, sem disposição para o sexo, é importante o parceiro sinalizar esse mal-estar, mostrar que o outro está passando do limite no trabalho e que ele está se sentindo abandonado. Essa também é uma forma de amor – ressalta Lina Wainberg.
Chegar ao consenso é um equilíbrio delicado que exige diálogo e a medida do quanto cada um está disposto a ceder. E, se no momento em questão um dos dois (ou ambos) está trabalhando mais em busca de uma promoção ou no meio de um curso de pós-graduação, ou se estão decididos a começar uma reforma ou a buscar renda extra para comprar uma casa, tudo pesa para o sexo ficar em terceiro plano e, na carona, a intimidade do casal. No meio de toda a correria, a questão não é mais numérica, de quantas vezes se faz ou se deixa de fazer sexo. A questão, apontam os sexólogos, é outra: qual a sua prioridade?

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