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24 outubro, 2010

Os desafios do prazer

Sexo
Os desafios do prazer
A frustração na cama ainda é uma
realidade para muitas mulheres,
mas a boa notícia é que especialistas
garantem que 80% dos casos têm solução

Adriana Lins


Ilustração Negreiros
Os terapeutas sexuais pensavam já ter escutado de tudo em termos de reclamação. A de que a ansiedade por um bom desempenho atrapalha e muitas vezes impede a relação sexual é uma das mais recorrentes. Mas essa queixa sempre partiu dos homens. Dos consultórios médicos vem a informação de que a pressão por ser "bom de cama" se tornou também uma séria preocupação das mulheres. Os médicos contam que a crescente expectativa para que as mulheres sejam tão experientes quanto os homens está levando muitas pacientes à frustração. Elas se acham incapazes de oferecer uma transa fantástica e acabam por não aproveitar o momento ou mesmo por evitá-lo. "A ditadura do orgasmo é uma das maiores violências que a mulher sofre atualmente. O que foi uma conquista feminina passou a ser uma obsessão, que pode até levar a casos graves de depressão. O orgasmo é algo espontâneo e não pode ser atingido debaixo de tanta pressão", diz Gerson Lopes, presidente da Comissão de Sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). A chamada síndrome da ansiedade de desempenho é mais uma das muitas causas para a anorgasmia – a dificuldade para ter orgasmo ou a falta dele –, problema que afeta um terço das brasileiras. Estima-se que as causas biológicas, como depressão, doenças cardiovasculares, hipertensão e deficiência hormonal, não cheguem a 10% dos casos.
Apesar de todo o esforço mundo afora, o orgasmo feminino continua a ser um mistério para a ciência. Ao que tudo indica, na maioria dos casos, a origem do problema é psicológica ou cultural – o que se torna algo mais fácil de ser controlado. De acordo com a pesquisa Descobrimento Sexual do Brasil, o maior estudo já feito sobre o assunto no país, a ausência de orgasmo nas relações sexuais cresce entre as jovens de 18 a 25 anos, cai entre as mulheres de 26 a 40 e reduz-se ainda mais entre as de 41 e 50 anos. E volta a subir entre as que têm mais de 61 anos. "Essas estatísticas mostram que o orgasmo está profundamente ligado à experiência, ao autoconhecimento, já que as mulheres menos experientes são as que apresentam maior índice de falta de orgasmo. O número só volta a crescer na melhor idade, quando os níveis de hormônio feminino estão em queda", explica a sexóloga Carmita Abdo, do Hospital das Clínicas da USP, coordenadora do estudo. "É uma prova de que é possível superar o problema", afirma. Para a maioria dos especialistas, as causas psicológicas são os fatores determinantes para a dificuldade do orgasmo feminino. "É mais uma questão psicoemocional, com forte intervenção cultural", diz Maria Helena Vilela, diretora do Instituto Kaplan, Centro de Estudos da Sexualidade Humana, em São Paulo. Parte da responsabilidade pode ser atribuída à educação sexual, ou à falta dela.
Que as causas remontem à infância ou à ansiedade por "ter de ser o máximo", para todos os motivos – ou quase – há remédio. Segundo o ginecologista Gerson Lopes, a anorgasmia pode ser contornada em cerca de 80% dos casos. A terapia em grupo é um dos tratamentos mais eficazes. Com um detalhe interessante: os grupos apresentam resultado melhor se tiverem a presença conjunta de mulheres e homens. Falar abertamente sobre os desejos, sobre como e quanto gosta de ser tocada é fundamental. Parece lugar-comum, mas esse é um dos maiores tabus das mulheres, mesmo depois de anos de uma relação estável. "Até agora, esse foi o método que mostrou resultados mais satisfatórios para a disfunção sexual. São sessões feitas entre dezesseis e vinte semanas, e o método resulta em 75% de diminuição dos sintomas da anorgasmia", afima Carmita Abdo.
Outro método que tem se mostrado eficaz é a adoção para as mulheres do androgênio, um hormônio masculino ao qual se atribui aumento da libido e maior facilidade para ter orgasmo. De acordo com César Eduardo Fernandes, da Sociedade Brasileira do Climatério, o androgênio estimula a criação de fantasias sexuais e aumenta a excitação e a lubrificação, o que acaba por encurtar o caminho para o orgasmo. "Em pesquisas, as mulheres que tomaram o hormônio relataram melhora no desempenho sexual de cerca de 50% em relação às que tomaram placebo", conta. Tratamentos existem. Mas é preciso saber à porta de quem bater. Muita bobagem já foi dita e inventada. A mais pitoresca foi o Orgasmatron, aparelho com eletrodos que eram colocados na medula da paciente e ligados a um controle que emitia estímulos elétricos até a mulher chegar ao orgasmo. Foi reprovado pela FDA (órgão regulador de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos) e pela falta de voluntárias para testá-lo.


"Ai, faz assim ó"
A dificuldade de atingir o prazer tem, na maioria das vezes, origem psicológica. Confira quais os principais obstáculos da mulher para se soltar na cama
Deseducação sexual
Uma educação repressora fixa a idéia de que descobrir seus órgãos sexuais é errado
Repressão religiosa
A religião, quando incute na mulher a culpa pelo prazer, pode gerar um sentimento negativo sobre o ato sexual
Falta de diálogo com o parceiro
Quando a vergonha impede a conversa, fica difícil saber o que cada um gosta e o que eventualmente falta na relação
Resistência da mulher em ser seduzida
Às vezes a mulher quer se mostrar tão independente e dona do próprio nariz que não baixa a guarda nunca e não se deixa seduzir
Ditadura do orgasmo
A discrepância entre a sensação de que se deve – ou mesmo que se pode facilmente – ter orgasmos cinematográficos em toda relação sexual e a realidade leva à frustração e à intimidação
Dificuldade de fantasiar
A fantasia é essencial. Além de reacender a relação a cada transa, auxilia no autoconhecimento do corpo e na quebra de tabus
Conformismo
Muitas mulheres nem ao menos tentam se informar sobre possíveis tratamentos e se acostumam com a falta do orgasmo em sua vida
Traumas
Traumas da infância e da adolescência – como abusos e educação repressora – podem gerar ódio inconsciente dos homens
Ansiedade e stress
Essas duas "doenças da modernidade" podem ser inimigas do prazer. Atrapalham o orgasmo por uma questão psicoemocional e também por fatores biológicos, como o maior fluxo de adrenalina no organismo, o que dificulta a lubrificação vaginal e o relaxamento
Fatores biológicos
Diabetes, hipertensão e depressão dificultam o orgasmo pelas limitações que provocam e também por causa de eventuais efeitos colaterais dos remédios ingeridos pela paciente