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29 novembro, 2018

12 de junho é dia de swing?



Foto: Divulgação - Swing Club BH
Quarto com janela de vidro no Swing Club BH

A tradição no Dia dos Namorados é planejar um momento especial. Pode ser um jantar romântico, uma viagem, a realização de uma fantasia. "Ao invés de gastar R$ 100 por duas horas em um motel, no Swing Club BH paga-se R$ 80 e a experiência pode ser muito mais interessante”. É com o lema “onde tudo é permitido e nada é obrigatório” que Raul, responsável pela administração da casa, apresenta seu negócio como alternativa de programa para “casais de mente aberta”, expressão que ele usa para definir seu público. Das 22h às 6h, pode-se dançar ao som de música ao vivo no Scotch Bar, assistir aos shows de strippers feminino e masculino na boate, ir para um quarto privado ou observar os pares mais liberais nos cômodos com janelas de vidro ou na sala coletiva, onde se pode presenciar momentos íntimos de homens e mulheres. 

Sofia tem 31 anos e é relações públicas na capital mineira. Há 10 anos está com Pedro, 36. “A gente se ama, mas nossa vida sexual pedia uma novidade”. A resposta para esse “algo mais” que a belorizontina buscava foi o swing, uma ideia que surgiu como fantasia de ambos. A decisão veio em uma noite despretensiosa em que os dois estavam em um bar. Há um ano, lá foram eles para o Swing Club BH, única casa em Minas Gerais dedicada à troca de casais. Dentro do ambiente de três andares procuraram por um par que lhes interessasse. “Pedro e eu temos o mesmo gosto tanto para homens quanto para mulheres”, contou Sofia. Eliminado esse possível problema, veio uma primeira decepção. Estava difícil encontrar pessoas que lhes agradassem. Naquela noite, a idade dos presentes era de aproximadamente 50 anos. Eles chegaram a pensar que não daria certo. “No fim das contas, tivemos sorte. Chegou um casal de modelos, ambos de 26 anos, lindos! Decidi então, que iríamos abordá-los”. Na etiqueta do swing, é quase sempre a mulher quem faz a negociação e combina as regras do que será ou não permitido.

“A aproximação é um pouco constrangedora e a conversa precisa quebrar o gelo. Comecei com a pergunta clássica: é a primeira vez de vocês aqui? Clara (nome da outra menina) respondeu que sim. Então emendei: e vocês estão aqui por quê?” Essa pergunta, que pode parecer óbvia para quem nunca foi a uma casa de swing, pode, sim, ter muitas respostas. E a principal delas é o voyerismo. Mas não, Clara disse que nunca tinha tido beijado outra mulher e que tinha vontade de experimentar. Contou também que seu namorado gostaria de vê-la com outra garota. Sinal verde para o próximo passo. “Posso te dar um beijo, Clara?” Foi com essa pergunta que Sofia deu início à sua primeira experiência com oswing. A resposta foi afirmativa e, com o beijo entre as duas mulheres, estava selado o compromisso dos quatro para aquela noite. 


No Brasil, não existe uma informação precisa sobre a quantidade de casas de swing ou sobre o número de adeptos. No entanto, a pesquisa da antropóloga Olívia Von der Weid, de 2008, intitulada “Adultério consentido: gênero, corpo e sexualidade na prática do swing” identificou a existência de 55 estabelecimentos no país criados para a troca de casais. Nas regiões Sul e Sudeste estão localizadas 47 dessas 55 casas, com destaque para São Paulo e Rio de Janeiro que juntas abarcam 31 desses locais. 

NO traição, YES swing 
Fernanda e Rodrigo estão juntos há 6 anos e desde que iniciaram o relacionamento frequentam ambientes de swing. Já foram em casas em Recife, Florianópolis e São Paulo. Moradores do interior de Minas Gerais, uma vez por mês viajam 200 km até Belo Horizonte para “apimentar” a relação. Antes de se relacionar com a atual companheira, Rodrigo teve um casamento marcado por traições à esposa que levou à separação. No relacionamento atual com Fernanda, o swing foi um antídoto para eliminar o interesse em relações extraconjugais. Nessa meia dúzia de anos frequentando o Swing Club BH o casal nunca efetivou a troca de casais propriamente dita, mas já vivenciou experiências de beijar e tocar outras pessoas. “Hoje me sinto mais realizado podendo viver outras experiências sexuais junto com a minha mulher, sem a necessidade de traí-la.”, explica Rodrigo. 

Foto: Reprodução da pesquisa
Sofia reforça essa ideia. “Eu amo o meu marido e nunca seria capaz de traí-lo, mas não acredito na monogamia. O swing serve para alimentar um relacionamento de muitos anos, é uma tentativa de fazer coisas novas sexualmente. Eu acho que poucas pessoas praticam o swing, apesar de muitas terem vontade, mas as pessoas traem muito umas às outras”.

Dê sua opinião:

A antropóloga Olívia Von der Weid iniciou sua pesquisa sobreswing após constatar em um outro estudo realizado em 2004 que 47% das mulheres admitiram já ter traído, contra 60% dos homens. Surge aí uma pergunta: a traição é mais socialmente aceita que o swing? A psicóloga, psicoterapeuta, escritora e professora aposentada da UFMG, Clara Feldman, põe luz à essa questão. “Para tratar de assunto como esse, é preciso enxergá-lo sem o menor julgamento e sem entrar em questões morais. O importante é tentar compreender o comportamento e não julgá-lo. O swing não me parece uma experiência recorrente entre as pessoas. As práticas que ocorrem com muita frequência passam a fazer parte culturalmente do comportamento social, e esse é o caso da traição. Algumas pessoas podem associar a prática da troca de casais a um desvio sexual ou a uma conduta desvirtuada, mas encaram com naturalidade a traição”.

Cumplicidade é a palavra mais usada pelos praticantes de swing para defender essa escolha. Todos consideram esse comportamento uma alternativa honesta para vivenciar relações longas sem que as pessoas precisem esconder o desejo de se envolver sexualmente com outros homens ou mulheres. 

“Os casais praticantes de swing consideram que a possibilidade de viverem aventuras sexuais de forma negociada dentro do próprio relacionamento tornaria uma eventual traição de um dos parceiros algo ainda mais grave. A fidelidade, mais do que valorizada, parece ser uma condição essencial para a preservação do relacionamento”, afirma a antropóloga Olívia Von der Weid que completa: “a prática doswing é também uma alternativa adotada pelos casais para se prevenirem contra a infidelidade. Ao controlar a sexualidade do parceiro consentindo que ele mantenha relações sexuais com outras pessoas, os swingers acreditam estar se protegendo da tão indesejada situação de traição. Um slogan que encontrei na minha pesquisa sintetiza bem essa ideia: NO traição, YES swing”.

O romantismo entra nesse jogo? 
Mas por onde passam os ideais de romantismo para os casais praticantes de swing? Não há contradição ao sentimento de amor o “empréstimo” da pessoa amada? O que fazer com o sonho de ser feliz para sempre com uma única pessoa? Dê sua opinião.  

O argumento central dos praticantes de swing é que há separação entre o ato sexual e o sentimento. O “fazer amor” está reservado apenas para o companheiro. Segundo Von der Weid, este é um tema recorrente entre os swingueiros e essa é uma premissa básica para quem quer aderir à essa prática. “É importante separar amor e sexo”, afirma Raul, responsável pelo Swing Club BH e adepto da prática há 10 anos com sua esposa Thaís. 

A pesquisadora ouviu dos casais com quem conversou que o swing trouxe resultados positivos para diferentes esferas de seus casamentos. Ver o parceiro se relacionando com outra pessoa, ser visto e participar dessa interação como observador ou ativamente traria consequências para a relação a dois no sentido de aumentar a liberdade, a intimidade e melhorar a própria relação sexual do casal. Olívia Von der Weid explica que a exclusividade sexual não é a maneira pela qual os casais swingers protegem o compromisso com o outro. Ela aparece, entretanto, sob nova roupagem e é justamente na separação entre sexo e amor que se encontra essa exclusividade nas relações swingers.

“Fazer sexo igualaria a todos. Cada indivíduo em uma casa de swing é um entre muitos outros possíveis parceiros sexuais, mas o amor singulariza, pois é capaz de transformar um indivíduo em especial. “Fazer amor” é considerado como superior e especial, enquanto “fazer sexo” responde a necessidades fisiológicas”, explica a antropóloga.

(A pedido dos entrevistados, os nomes das pessoas que relataram experiências de swing são fictícios).

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