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09 maio, 2011

Brasil, terra do sexo fácil e barato. Até quando?



Ela não tem mais de 14 anos. Corpo bronzeado, roupas mínimas, olhar vazio. O homem que abaixa sua blusa e acaricia seu corpo já passou há muito dos 50. Seus gestos são grosseiros, e seu olhar é pura perversão. A cena acontece na praia, à vista de todos, explícita. Seria chocante, se não fosse tão comum: o Brasil é hoje um dos destinos preferidos por estrangeiros que viajam em busca de sexo. Esqueça a beleza das nossas praias, ou a riqueza de nossa cultura: 'Fui para o Brasil por uma única razão: transar', diz um alemão, encantado com as nossas 'belezas naturais'. Acabar com a exploração sexual de crianças e adolescentes foi promessa da primeira gestão do presidente Lula, reforçada no último Carnaval. Mas a verdade é que muito pouco foi feito. Se continuarmos assim, o Brasil poderá desbancar a Tailândia e se transformar no campeão mundial do turismo sexual. A reportagem de Marie Claire esteve em Fortaleza, um dos principais focos desse tipo de turismo, e revela como esse comércio abusivo acontece bem debaixo de nosso nariz.
Jovens esperam a chegada de holandeses no aeroporto Pinto Martins, em Fortaleza.
No aeroporto
Três jovens aguardam a chegada de um grupo de holandeses na ala do desembarque internacional. Só Regiane** sabe quem eles são, mas mantém mistério com as amigas. No ano passado, ela manteve um 'romance' com um deles. 'Homem brasileiro? Deus me livre! Não é preconceito, mas eles pagam mal e exigem muito.' Cearense, 19 anos, mãe de dois filhos, Regiane é garota de programa. Faz parte de uma rede de prostituição comum no Brasil: a do turismo sexual. 'Eu tenho dois gringos no momento. Esse holandês e um alemão que tá voando por aí.'

Homens como os clientes de Regiane, que cruzam o Atlântico atrás de sexo, atravessam sem dificuldade as portas de entrada para passar dias de rei por aqui. Como a prostituição no país não é crime, os estrangeiros se sentem à vontade para transar com brasileiras. O problema é que, no rastro do sexo pago, forma-se um esquema que movimenta o tráfico de drogas, o tráfico de mulheres, a falsificação de documentos e, pior, a exploração sexual de crianças e adolescentes.


A entrada de estrangeiros no Brasil cresceu. Em 2004, foram mais de 4,7 mi-lhões. No ano seguinte, saltou para 5,3 milhões, segundo dados da Embratur. Só em janeiro de 2006, 61 mil passageiros, vindos especialmente da Europa, ater- rissaram no Brasil. Em janeiro passado, foram qua-se 65 mil. Como não existem estatísticas sobre turistas sexuais no país, é impossível afirmar quem é quem nesses vôos.


Os holandeses que estão chegando serão recepcionados por Regiane e suas amigas, Sandra e Taís, ambas de 18 anos e também garotas de programa. 'Eles gostam de moreninhas de canela fina, como eu', diz Sandra. Quando podem, elas também escolhem o cliente. Preferem carecas sarados e tatuados, um tipo comum entre os italianos -junto com alemães, holandeses e portugueses, o grupo mais manjado de turistas sexuais. Muitas sonham em casar e cair fora. 'Não tenho medo de ir embora com alguém que mal conheço. Tenho medo é de passar fome no Brasil', diz Regiane.
Garota de programa em três momentos de assédio a turista estrangeiro


Na agência
A Alemanha é só um entre muitos pontos de partida de turistas que visitam o Nordeste. Itália, Holanda, Áustria e Portugal são outros. 'Drogas e mulheres têm na Europa, mas aqui o sexo é mais barato e fácil', diz Francesco, um italiano que já esteve 'inúmeras' vezes no Brasil.

As agências que combinam viagens e mulheres operam principalmente pela internet. Em contato telefônico com a Brasil-Club, com sede na cidade alemã de Dortmund, a reportagem foi orientada a consultar o portal da empresa. O site traz fotos de mulheres seminuas em poses eróticas, preços de possíveis diversões sexuais e um catálogo de garotas disponíveis para a temporada -o cliente pode fazer a escolha antes da partida. Oferece pacotes 'no Brasil com garotas e sexo a partir de 2.300 euros'. Só não diz onde fica o hotel.

'Drogas e mulheres têm na Europa, mas, aqui no Brasil, sexo é mais fácil e barato', afirma o turista italiano Francesco
Em novo contato por telefone, a reportagem foi atendida por Albert. Queríamos saber se era mesmo possível chegar ao Brasil e já encontrar uma mulher à disposição. 'Claro que é', resposta imediata. 'Basta preencher o formulário de inscrição on- line, indicando seu tipo de mulher: magra, normal, meio forte. Diga também a faixa etária que deseja e a cor de pele. Somos procurados devido a nossas latinas e afros.' Ele continua: 'As afros são negras, bem escuras. As latinas têm traços mais misturados, são da cor marrom.'

A única restrição é para quem procura garotas menores de idade. 'Não trabalhamos com menores porque isso no Brasil dá cadeia. Mas moças jovens tudo bem.' Albert diz que o endereço da hospedagem só é fornecido diante preenchimento de cadastro e pagamento de sinal de mil euros. A Brasil-Club trabalha no Rio de Janeiro e em cidades do Nordeste.


Além do Rio, Fortaleza, Natal e Recife entraram para a rota do turismo sexual, em boa parte, em decorrência da propaganda oficial do governo, que durante décadas associou a imagem do Brasil a mulheres seminuas, receptivas e sensuais. A partir de 2000, essa estratégia foi abandonada, mas o estrago já foi feito. 'Em bom alemão, fui ao Brasil por uma única razão: transar', diz Oldmen, no site da Brasil-Club.


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